Título: Negócio depende de a Venezuela continuar a fornecer o petróleo
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Internacional, p. A11

As refinarias controladas pela empresa venezuelana PDVSA nos Estados Unidos devem atrair muitos interessados e podem alcançar preço de até US$ 10 bilhões, afirmam analistas do setor na América do Norte. A intenção de venda foi manifestada pelo presidente Hugo Chávez ontem. Cerca de 15% das importações de petróleo dos EUA vêm da Venezuela. A empresa Citgo, controlada pela PDVSA nos EUA, é a quinta maior produtora de gasolina do país, tem receita anual de US$ 25 bilhões e uma rede de distribuição em 47 Estados americanos. A Valero Energy, uma das maiores operadoras de refinarias dos EUA, já declarou estar interessada nos ativos da Citgo. A companhia tem capacidade de refino de cerca de 900 mil barris diários e controla 100% de três refinarias de combustível, nos Estados de Louisiana (na cidade Lake City), Texas (Corpus Christi) e Illinois (Lermont) e duas refinarias de asfalto, em Nova Jersey (Paulsboro) e Geórgia (Savannah). Além disso, participa com 41% numa refinaria em Houston (Texas), em associação com a Lyondell. Separadamente, a PDVSA tem outra joint-venture com a companhia Amerada Hess numa das maiores refinarias do mundo, em St. Croix, Ilhas Virgens americanas, com capacidade de 495 mil barris diários. Se o governo da Venezuela se decidir pela venda, o preço deve ser influenciado pela possibilidade de manutenção dos contratos de fornecimento de petróleo venezuelano à Citgo. Hoje a companhia tem contratos de longo prazo de fornecimento com a PDVSA. O contrato de fornecimento para a refinaria da Louisiana, de 120 mil barris diários, vence em 2006. Outro grande contrato, para a refinaria do Texas (130 mil barris diários) vence só em 2012. Mas o analista de petróleo e gás da Standard & Poor's em Nova York, Ben Tsocanos, acredita que "haverá interesse de qualquer maneira, porque há muita demanda por refinarias nos EUA". O valor contábil dos ativos é de cerca de US$ 7,5 bilhões, diz Tsocanos. Steven Paget, do grupo First Energy Capital Corp., acredita que o valor mínimo de venda fique em torno de US$ 8 bilhões, considerando o valor de mercado de uma empresa com perfil parecido, a Valero Energy, que vale nas bolsas US$ 15,2 bilhões, com uma capacidade de produção diária de 2,2 milhões de barris. Mas o valor total do negócio poderia chegar a até US$ 10 bilhões, acredita Paget. A empresa valeria mais se pudesse continuar a manter o suprimento de petróleo venezuelano. Mas a qualidade das refinarias controladas pela Citgo é excepcional e as instalações podem ser usadas para refinar petróleo pesado de outros países, como Nigéria e Canadá, que também têm preços competitivos. "Neste caso, o problema seria o custo do transporte até o golfo do México, mas a operação é viável", diz Paget. O CEO da Valero Energy, Bill Greehey, disse ao jornal "The New York Times" que a venda das refinarias pela Citgo "só prejudica a própria Venezuela". A Valero se interessa em comprar algumas das refinarias e seria fácil transformá-las para refino de petróleo da Arábia Saudita, Iraque ou Kuwait, diz o executivo. A economista Annette Hester, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em Washington, afirma que o interesse da Venezuela pode ser em reduzir o volume de ativos nos EUA e evitar investimentos nas refinarias para cumprimento de regulamentação ambiental nos EUA. No terceiro trimestre de 2004, a Citgo acertou com a agência ambiental americana investimentos de US$ 320 milhões. Também faz sentido diversificar, ressalta Hester, já que 50% da produção venezuelana é vendida aos EUA. De uma produção total de 2,6 milhões de barris ao dia, 1,1 milhão vai para os EUA. O contrato fechado com a China é de 100 mil barris.