Título: Renan e Azeredo são alvo de duas representações
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Fonte: Valor Econômico, 19/10/2007, Política, p. A10

O P-SOL protocolou ontem na Mesa Diretora do Senado duas representações pedindo abertura de processo por quebra de decoro contra os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente licenciado da Casa, e Eduardo Azeredo (PSDB-MG). No caso de Renan, essa é a sexta representação contra ele: foi absolvido na primeira e há quatro no Conselho de Ética da Casa.

Desta vez, a representação basea-se em denúncia do jornal "O Estado de S. Paulo". Renan é acusado de propor emendas ao Orçamento da União liberando recursos para o município de Murici (AL), cujo prefeito à época era seu filho, Renan Calheiros Filho. Os recursos (R$ 280 mil) seriam da Funasa e seriam destinadas a empresa inexistente, por meio de convênio com a finalidade de construção de 28 casas pelo programa de combate à doença de Chagas.

Azeredo, por sua vez, tem contra si pedido de abertura de processo pelo PSOL com proposta de cassação do mandato pelo suposto envolvimento com o esquema de arrecadação ilegal de recursos para a campanha de 1998 ao governo de Minas Gerais, na qual ele era candidato à reeleição e foi derrotado.

O esquema, conhecido como "mensalão mineiro", foi denunciado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios. A operação de Minas foi apontada pela CPMI como embrião do esquema em âmbito nacional para a campanha de 2002. O PSOL alega que Azeredo mentiu na CPMI ao dizer que não sabia dos empréstimos contraídos por sua campanha. O partido lembra que a Lei das Eleições atribui ao candidato a responsabilidade por suas contas.

A mesma denúncia do "mensalão mineiro" resultou em representação contra Azeredo, arquivada em 2006 pelo conselho de ética. O arquivamento foi baseado no fato de a denúncia referir-se a ato anterior ao mandato.

Segundo Azeredo, a contabilidade da sua campanha era de responsabilidade do tesoureiro Cláudio Mourão. Diz desconhecer qualquer operação ilegal. De acordo com a Polícia Federal, Mourão fez uma lista de políticos mineiros beneficiados com recursos de caixa dois em 1998, operados pelo empresário Marcos Valério.

Na primeira representação contra Renan, em que era acusado de pagar despesas pessoais com recursos do lobista Cláudio Gontijo, funcionário da construtora Mendes Junior, ele foi absolvido em julgamento no plenário, em 12 de setembro. A pressão contra ele levou-o a pedir licença do cargo por 45 dias. A oposição vinha obstruindo os trabalhos da Casa. Agora, sob a presidência do petista Tião Viana (AC), vice-presidente do Senado, o plenário retomou as votações.

O P-SOL é autor das representações que acusam Renan de tráfico de influência e suposto envolvimento com esquema ilegal de arrecadação de recursos em ministérios comandados pelo PMDB. O DEM e o PSDB pediram processo contra ele por suposta espionagem contra senadores de oposição e de sociedade oculta em rádios e jornal em Alagoas. Os relatores devem apresentar os pareceres em novembro. (RU)