Título: Desemprego na Alemanha é o maior desde a Depressão
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Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Internacional, p. A10

O número de desempregados na Alemanha atingiu o maior nível do pós-Segunda Guerra Mundial em janeiro. A alta foi impulsionado em parte pela reforma no sistema de benefícios feita pelo governo, que entrou em vigor no início deste ano, e deve prejudicar o premiê social democrata Gerhard Schröder nas eleições deste mês. Pela primeira vez desde 1932, no período da Depressão, o número de alemães sem emprego superou a casa dos 5 milhões. É um número altíssimo, ainda que para um país como a Alemanha, que tem convivido nos últimos dez anos com crescimento baixo e alta taxa de desemprego. Ajustado sazonalmente, o número de pessoas sem trabalho é um pouco menor, 4,71 milhões. O resultado elevou a taxa de desemprego no país para 11,4%. Com a reforma, chamada de "Hartz 4", pessoas que estão recebendo seguro-desemprego ou benefício do sistema de seguro social e que estão desempregados há muito tempo são agora classificados como "em busca de emprego". No sistema antigo, essas pessoas não precisavam comparecer às agências de emprego para se registrar. Agora precisam. Trata-se de uma tentativa do governo alemão de forçar as pessoas a buscar emprego e não depender da generosa ajuda mensal do Estado. Segundo cálculos do escritório do Trabalho, 222 mil pessoas se registraram nos escritórios de empregos do país. O frio deste inverno na Alemanha também teve impacto, pois setores-chave como o de construção civil demitiram empregados. Para críticos, o problema não termina em motivar os alemães a trabalhar - eles argumentam que simplesmente não há empregos suficientes no país. E reformas que só fazem aumentar o número de desempregados, dizem, tampouco ajudam a restabelecer a confiança do consumidor e, assim, alavancar o consumo interno. As vendas no varejo caíram em dezembro, configurando a terceira queda em quatro meses. "O significado psicológico da marca de 5 milhões de desempregados pode ser muito prejudicial ao governo", disse Hans-Jürgen Hoffmann, diretor-gerente do instituto de pesquisa Psephos, com sede em Hamburgo. "Isso tornará a campanha mais difícil", acrescentou, em referência às eleições estaduais do próximo dia 20. Em campanha para eleição regional no Estado de Schleswig-Holstein (na fronteira com a Dinamarca), o premiê alemão disse que os dados divulgados ontem são "deprimentes, mas honestos." Schröder assumiu em 1998, quando havia 4 milhões de desempregados. Prometeu então reduzir o número para 3 milhões. O ministro da Economia e Trabalho, Wolfgang Clement, disse esperar que o desemprego cresça novamente em fevereiro, embora experiências em outros países sugiram que as novas políticas podem, eventualmente, cortar em até 20% o número de desempregados. Antes da introdução da reforma, o desemprego já vinha crescendo por 11 meses consecutivos no país.