Título: Bovespa busca composição mais plural
Autor: Moreira , Ivana ; Valenti , Graziella
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2007, Empresas, p. B3

O sucesso do mercado de capitais brasileiro é notícia país adentro. A força das ofertas inicias de ações na bolsa paulista e a formalização da economia resultante desse movimento estão levando informação sobre essa fonte de recursos para companhias e investidores fora do eixo Sul-Sudeste. Ainda há, porém, muito trabalho a fazer para disseminar as novidades sobre o novo Brasil capitalista, como os economistas gostam de dizer.

José Olympio Pereira, diretor do Credit Suisse, acredita que existem muitas candidatas à abertura de capital fora dos estados do Sudeste. "Há o restante do país inteiro."

Desde 2004, a região predomina entre as estreantes na Bovespa. Dentre as novatas, 66 possuem sede em São Paulo, nove no Rio de Janeiro, três em Minas Gerais e uma no Espírito Santo. A Região Sul, por sua vez, contribuiu com oito estreantes, enquanto o Nordeste, trouxe apenas duas companhias à Bolsa (ver quadro). Até o momento, as ofertas iniciais de ações continuam replicando a concentração regional das companhias abertas. Levantamento do Valor mostra que dentre as 727 empresas registradas na CVM, emissoras de ações e de títulos de dívida, mais de 85% são das regiões Sul e Sudeste.

Olympio ressalta o potencial de outras regiões do país, lembrando que, nos últimos anos, Centro-Oeste e Nordeste estão na linha de frente do crescimento econômico. "O Brasil tem uma enorme riqueza empresarial. Todo dia conheço grupos novos. Havia um mundo de companhias fora do radar."

Ainda no Sudeste, mas fora da ponte Rio-São Paulo, Minas Gerais está entre os estados mais avançados na disseminação de informações sobre a possibilidades de capitalização com emissão de ações.

Ontem, a Federação da Indústria do Estado (Fiemg), junto com a Bovespa e a Fundação Dom Cabral (FDC) apresentaram um mapeamento da situação de governança corporativa das companhias mineiras e de como está o apetite do empresário local para ir à bolsa.

O levantamento ouviu 70 empresas de faturamento acima de R$ 50 milhões anuais mostrou que 59% delas estariam propensas a abrir capital nos próximos anos.

Foram consultadas 154 companhias, mas só 70 aceitaram responder o questionário. "As empresas ainda precisam de mais informação sobre abertura de capital", avaliou o presidente da Fiemg, Robson Andrade. Cada participante da pesquisa receberá um relatório individual sobre seu potencial para abertura de capital. Segundo a gerente de desenvolvimento de empresas da Bovespa, Wang Jiang Horng, o estudo é uma importante ferramenta de reflexão para as empresas sobre a possibilidade de entrar para o Novo Mercado.

Dentre as participantes, pelo menos 35 empresas têm bastante interesse em listar ações e estariam em condições satisfatórias para iniciar o processo no curto ou médio prazo. "Cinco delas devem abrir capital ainda no próximo ano", informou a professora Virgínia Izabel Oliveira, da FDC e coordenadora do levantamento.

O grupo Orguel, um dos maiores do país na venda e locação de equipamentos para a construção civil, está entre eles. "Estamos nos preparando para isso, mas vamos fazer quando estivermos seguros, sem precipitações", informou ontem o presidente do conselho de administração, Fábio Guerra. Grupo controlado por duas holdings familiares, a Orguel vai faturar neste ano R$ 170 milhões. Pelo menos oito diretores da companhia participaram do seminário realizado na Fiemg. Membro da segunda geração dos controladores, Felipe Guerra Lages, coordenador do conselho de acionistas, reconhece que os obstáculos ainda são culturais. "É preciso levar informação para todos os acionistas."

Outra companhia da lista que está pronta para abrir capital é a distribuidora de combustíveis Alesat. A empresa já tem até uma área de relações com investidores estruturadas. Mas o presidente do conselho, Sérgio Cavalieri, diz que não há um cronograma definido. No momento ideal, faremos, com agilidade, nosso IPO", completou o vice-presidente do colegiado, Jucelino Sousa.

Maior varejista do Estado, a Ricardo Eletro também diz estar interessado em ir à Bovespa. O presidente da empresa, Ricardo Nunes, disse que já conta com a consultoria da Fir Capital para estruturar o processo. Porém, a listagem não deve ocorrer no curto prazo. Segundo ele, ir à bolsa será uma boa alternativa para financiar o plano de expansão da rede pelo país.

A maior parte dos interessados em listar ações é do setor de transformação. No segmento atacadista, muito forte em Minas Gerais, quase todos teriam condições estruturais de ofertar papéis na bolsa, mas nenhuma empresa demonstrou interesse real.

João Batista Fraga, superintendente de relações com empresas da Bovespa, destaca que a bolsa já tem buscado fazer reuniões e levar informação para outros estados, além de Minas Gerais. Segundo ele, há intenção de replicar o modelo do estudo com a FDC. "Esse levantamento reuniu os dados de forma mais sistematizada. Faremos em outros estados"

Apesar de admitir a concentração, Fraga destaca que o fato de uma companhia ter sede em São Paulo ou Rio de Janeiro não significa que os investimentos estejam limitados a estes estados apenas. Ao contrário. Segundo ele, nas apresentações que as empresas fazem na Bolsa quando pensam em abrir capital, percebe-se uma atuação quase nacional. Muitas vezes, o endereço da sede visa apenas estar próximo do centro de serviços financeiros e corporativos do país.

Os empresários do país, distantes da capital financeira, serão estimulados a descobrir os avanços dos mercado que os investidores já perceberam. O crescimento da participação de pessoas físicas na bolsa, embora generalizada, é ainda mais forte fora das regiões Sul e Sudeste (ver tabela). Na Bahia, por exemplo, havia pouco mais de 2,0 mil investidores em 2004. O número foi multiplicado por três e subiu a mais de 6,1 mil. No Mato Grosso do Sul, a evolução foi maior: de 333 investidores para 1,4 mil.

Théo Rodrigues, diretor geral do Instituto Nacional de Investidores (INI), diz que fora do centro financeiro do Sudeste o investidor é mais ávido por informações. Recentemente, a instituição realizou cursos sobre o mercado de capitais em Aracaju, Fortaleza, Salvador, Natal, Cuiabá, entre outros. "São de 25 a 40 pessoas por turma."