Título: Brasil precisa de 8 milhões de novas casas
Autor: Boechat , Yan
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2007, Empresas, p. B9

A aposta das principais construtoras e incorporadoras brasileiras no segmento de baixa renda ganha um reforço importante hoje, quando o Sindicato da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon) apresenta um plano para zerar o déficit habitacional brasileiro, que, de acordo com dados do IBGE compilados pela Fundação Getúlio Vargas, está em cerca de oito milhões de moradias. O sindicato pretende fazer pressão junto ao governo federal para que 10 medidas inspiradas na experiência mexicana sejam adotadas pelo Plano Nacional de Habitação, que deve ser apresentado pelo Ministério da Cidades no segundo semestre de 2008. "O México vai conseguir eliminar o déficit habitacional até o fim dessa década e nós acreditamos que o Brasil pode fazer o mesmo em 12 ou 15 anos", afirma João Cláudio Robusti, presidente da entidade.

O ponto principal na eliminação da carência de moradias na visão do sindicato é uma ampliação considerável dos subsídios governamentais para as habitações de interesse social. Nas contas de Robusti, o governo precisaria investir cerca de R$ 100 bilhões em subsídio para que as oito milhões de famílias que integram o déficit possam ter uma moradia digna. "Apresentamos 10 medidas ao governo, mas sem subsídio as construtoras não conseguem construir residências a preços inferiores a R$ 60 mil."

Um incremento de 700 mil novas moradias ao ano também seria um impulso importante para as mais de 200 mil construtoras e incorporadoras que existem no país hoje e são a base do Sinduscon. Com a capitalização das grandes empresas, que foram à bolsa, o mercado de construção civil brasileiro passa por um inédito processo de concentração. Historicamente pulverizado, pela primeira vez as grandes empresas do setor estão se expandindo para outras estados brasileiros e tornando a vida das pequenas companhias cada vez mais difícil. "Para quem não se capitalizou o boom imobiliário não aconteceu ainda", afirma ele. Robusti diz que a principal intenção da campanha que o Sinduscon dá início hoje é contribuir com o crescimento do Brasil. Mas, não nega, que se a habitação popular de fato decolar, pequenas empresas, como a sua, serão extremamente beneficiadas e terão mais chances de concorrer com as grandes do setor.

Apesar das esperanças das pequenas em conquistar uma fatia desse grande bolo, as principais companhias estão criando marcas e divisões específicas para a baixa renda, ou seja, a parcela da população que ganha até cinco salários mínimos e não tem sido atendida pela enxurrada de lançamentos imobiliários. Os dados do IBGE compilados pela empresas de consultoria da Fundação Getúlio Vargas mostram que a aposta pode render bons frutos.

De acordo com o estudo, o número absoluto de moradias necessárias cresceu de 2005 para 2006, passando de 7,8 milhões para 7,95 milhões. São Paulo é o estado com a maior necessidade de novas casas: 1,5 milhão. Rio, Minas, Bahia, Pará, Ceará e Maranhão, juntos, precisariam de mais 3,5 milhões. O Maranhão é o estado com maior número relativo de famílias sem residências adequadas: 38%. Apesar do aumento absoluto no déficit brasileiro, o número relativo, ou seja, o percentual da população sem moradia, caiu 0,1%, passando de 14,7% em 2005 para 14,6%, em 2006.