Título: Empresário propõe "check in" avançado para viabilizar vôos em Viracopos
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Brasil, p. A2

Um terminal de embarque aéreo construído na região do Rodoanel, entre as rodovias Bandeirantes e Anhangüera, a menos de oito quilômetros das marginais, onde os passageiros pudessem fazer o embarque remoto e depois seguir, de ônibus, rumo a Viracopos, utilizando para este deslocamento parte do tempo entre o check in e a entrada no avião.

A idéia, batizada de Uniport, é uma proposta de Luis Norberto Pascoal, presidente da DPaschoal. O terminal, segundo o empresário, permitiria que o aeroporto de Campinas fosse melhor aproveitado e tornaria desnecessário atravessar toda a cidade para se chegar ao aeroporto de Guarulhos.

Segundo Pascoal, há uma área verde na região do Rodoanel, que poderia ser utilizada para a construção do terminal. A obra não levaria mais de dois anos a partir da aprovação do projeto e poderia ser feito por meio de uma Parceria Público Privada (PPP). "É uma solução de curto prazo e que exige pouco dinheiro, quando comparamos às demais que foram colocadas: construção de um novo aeroporto ou de um trem rápido até Viracopos", afirma o empresário.

Alguns especialistas consultados pelo Valor, no entanto, não acreditam que esse terminal possa amenizar os problemas atuais enfrentados por quem precisa viajar de avião. O arquiteto Ricardo Guerra Florez, autor de um projeto para a construção de um aeroporto nas imediações do ABC, acredita que um terminal nos arredores do Rodoanel irá descentralizar malas e passageiros, além de não amenizar o problema de deslocamento até o novo ponto de embarque. "Se a pessoa precisa ir até esse terminal, então é melhor que vá direto para Guarulhos", diz Florez.

Pascoal acredita que o problema de deslocamento pode ser facilmente resolvido. Como hoje há um trem que vai de Perus até São Paulo, e esse distrito fica perto do local escolhido para o Uniport, seria possível uma ligação desse trem com o terminal. "De início a proposta pode parecer um pouco louca, mas não é. Terminais de embarque remotos já existem em Estocolmo (Suécia) e na cidade japonesa de Narita", conta o executivo. Além disso, ele explica que o trem não precisaria ser rápido, pois o trajeto até o Uniport seria curto.

O arquiteto Jorge Wilheim, secretário de Planejamento na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy, vê com bons olhos a idéia do terminal remoto, mas não acredita que exista sentido fazê-lo fora de São Paulo. "Se é para fazer um terminal remoto, que seja dentro da cidade, onde se pode chegar de metrô. Se não as pessoas vão ter de ir até o terminal, fazer o 'check in' e depois se deslocar até Viracopos."

Mauro Schwartzmann, presidente do Fórum das Agências de Viagens Especializadas em Contas Comerciais (Favecc), tem uma opinião diferente. Ele acredita que o Uniport cortará caminho e economizará tempo, principalmente para aqueles que moram na zona sul de São Paulo e nas proximidades de Alphaville. "É um público que utiliza muito os aeroportos e poderá chegar rapidamente ao terminal, até mesmo mais rápido do que se fosse até o aeroporto de Guarulhos", diz. Ele lembra que já existe uma ferrovia na região, que poderá ser utilizada para o transporte de passageiros.

Segundo a proposta de Pascoal, ao chegar ao Uniport o passageiro faria o "check in", despacharia as malas e estaria "embarcado". Dali, seguiria de ônibus para Viracopos, trajeto que duraria cerca de 40 minutos. De acordo com o empresário, o passageiro não precisaria chegar mais cedo ao Uniport do que se estivesse indo diretamente para o aeroporto. Cerca de 20 minutos seriam abatidos do tempo de espera, já que teria feito o "check in" e não precisaria chegar a Viracopos com tanta antecedência. Os outros 20 minutos, diz ele, "equivalem ao tempo que um morador da zona sul gastaria para se deslocar do Uniport até Guarulhos, em dia de tráfego livre".

Florez acha a idéia do check in antecipado muito boa, mas acredita que despachar as malas em um terminal remoto pode ser um pouco complicado. "O ideal é que o passageiro não se afaste de sua bagagem. Esse terminal traria esse problema de logística, de como levar as malas separadas dos clientes", diz. Para ele, mais um transbordo trará mais problemas de gestão. "É uma medida de transporte antiquada", diz. Ele também critica a utilização de Viracopos. "Ele é de Campinas e não de São Paulo. Aqui temos boas opções. Basta, por exemplo, utilizar melhor o Campo de Marte."

Pascoal e Schwartzmann discordam. Eles lembram que o aeroporto de Campinas está pronto para ter quatro pistas e, no passado, nas décadas de 60 e 70, realizou inúmeros vôos internacionais. "É um aeroporto extremamente seguro e, infelizmente, subaproveitado. O clima lá é privilegiado e só fecha, por problemas meteorológicos, cerca de seis horas por ano", diz Schwartzmann.