Título: Empresários acreditam que, com Jobim, setor terá política industrial
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Brasil, p. A3

O prestígio do novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, que tirou do Palácio do Planalto a pressão provocada pela crise aérea, é apontado pelos empresários do setor de equipamento militar como a principal garantia de que o projeto de política industrial de Defesa não ficará no papel como os anteriores (a última proposta é de 2005, do então ministro Waldir Pires). Há forte entusiasmo no setor privado com as idéias de Jobim, enquanto entre especialistas da academia levantam-se dúvidas e ceticismo.

Para os empresários, com fortes aliados no Ministério da Defesa e nos comandos militares, é fundamental, para a sobrevivência do setor, o apoio do governo e a garantia de orçamento estável para compra, no país, de material para as Forças Armadas. Eles argumentam que a sociedade teria, como benefício, a autonomia em matéria de Defesa e o desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas com desdobramentos importantes para a vida civil.

"Quatrocentos exames de carótida são feitos anualmente no Brasil baseados em isótopos derivados do programa nuclear brasileiro", argumenta o vice-presidente da Associação das Indústrias de Material de Defesa, Carlos Afonso Gamboa, almirante reformado da Marinha. O sucesso da Embraer começou como pesquisa militar, reforça o presidente da Associação Brasileira da Indústria Aeroespacial, Walter Bartels.

Como derivados das pesquisas em Aramar, centro de desenvolvimento nuclear da Marinha, o Brasil ganhará o domínio da tecnologia para reatores nucleares compactos, que poderão ser usados para abastecer cidades na Amazônia, sugere o secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa, general José Benedito Barros Moreira. Ele argumenta que, por ter intenções dissuasórias, de desencorajar agressões ao país, muitos equipamentos militares são comprados para, em caso de sucesso, não serem usados. "Um equipamento comprado lá fora que não foi usado e se tornou obsoleto é dinheiro que sai pela janela; mas comprar no país gera renda, empregos e tecnologia", defende.

Barros Moreira advoga os gastos com a indústria de Defesa como questão de segurança nacional. Só Forças Armadas bem equipadas poderão, no futuro, defender as jazidas de petróleo descobertas no litoral brasileiro, a distâncias cada vez maiores, argumenta ele.

Os empresários se queixam de que a falta de encomendas no país compromete as vendas para o exterior, por provocar desconfianças em eventuais compradores externos, que pedem referências sobre o uso dos equipamentos pelas forças armadas nacionais. "Uma das primeiras coisas que nos perguntam é: suas Forças Armadas compram esse produto?", comenta o diretor da Fiesp Jairo Cândido.

Além de avisar à equipe econômica para atender aos planos do Ministério da Defesa, o presidente Luis Inácio Lula da Silva, que na recente viagem á África viu um de seus aviões reserva retido no solo por problemas de manutenção, já mostrou ter assumido os argumentos em favor do reequipamento das Forças Armadas. O orçamento dos comandos militares para 2008 foi aumentado de R$ 6 bilhões para R$ 9 bilhões, com promessa de chegar a mais R$ 1 bilhão, e foi assegurado o desembolso de R$ 130 milhões anuais para os projetos de Aramar.

A movimentação em torno do assunto levanta críticas, porém, entre alguns dos mais conhecidos especialistas em Defesa no país. Para Renato Dagnino, da Unicamp, os argumentos dos defensores da indústria de defesa não têm respaldo na experiência internacional, que mostram estreitamento dos mercados para produtos potencialmente fornecidos pela indústria brasileira, tendência das empresas civis a importar tecnologia, mais que desenvolvê-la de forma autônoma e vantagens geopolíticas questionáveis para o Brasil, segundo a literatura sobre relações internacionais.

"Com a revitalização das Forças Armadas, pode haver escala para essa indústria por três, quatro anos, e depois, sobrará a conta para o Estado", afirma o especialista Clóvis Brigagão, da Universidade Cândido Mendes. (SL)