Título: Empresas atendem aos clientes civis e militares
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Brasil, p. A3

As estrelas do setor de material de Defesa são empresas que se voltaram ao mercado civil, e encontraram clientes alternativos ao vacilante poder de compra dos militares. Algumas companhias conseguem sobreviver com a produção de material bélico, mas ocupam boa parte de suas linhas de produção com equipamentos destinados ao mercado externo.

O caso mais evidente é a Embraer, com quase 90% de suas atividades no mercado civil, cujos executivos evitam até comentar a faceta militar da companhia. Do lado das empresas tradicionais, a situação mais emblemática é a da Imbel, estatal deficitária, com prejuízos acumulados superiores a R$ 400 milhões em 2006.

A vinculação entre atividades civis e militares torna ainda mais difícil saber o tamanho dessa indústria, que, segundo as associações do setor, pode chegar a 300 companhias, e beirar 30 mil empregos diretos. Não há estatísticas confiáveis e o último levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Material de Defesa (Abimde), de 2005, aponta cerca de 300 empresas (46 associadas à Abimde), com quase 22,7 mil empregados.

Uma das maiores perdas do setor foi a da Engesa, que faliu no início dos anos 90. A Avibrás, especializada em foguetes, sobreviveu diversificando produtos, e hoje vende de antenas parabólicas a sistemas eletrônicos para trolébus. Uma política governamental para o setor poderia garantir bons negócios e fôlego até para empresas cronicamente deficitárias, como a Imbel. A empresa chegou a ganhar, em 2005, licitação para fornecer munição ao governo do México, mas não assinou o contrato por falta de garantias bancárias.

"Não temos encomendas do Exército, e temos prejuízo porque é grande o custo fixo de nossas cinco fábricas paradas", comenta o diretor comercial da Imbel, Ubirajara D´Ambrósio. "E como posso tentar vender lá fora se não tenho nem referências de cliente no país?".

A Imbel sobrevive com encomendas das forças policiais e da construção civil, que compra seus explosivos. Ela pesquisa novos produtos, como uma pistola de polímero e um rádio GPS que deverá equipar blindados usados importados pelo Exército. (SL)