Título: Quase um quinto dos deputados desiste da carreira
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Política, p. A6

Os parlamentares de origem empresarial, aqueles que se envolvem em escândalos de corrupção, os que têm idade avançada e os estreantes estão entre os que mais desistem da carreira política. Entre 1990 e 2006, 18% dos políticos desistiram de tentar um novo mandato ou não quiseram disputar cargo de maior projeção. As mulheres e os políticos com pouca experiência no Congresso ou sem acesso a recursos financeiros também entram nesse grupo.

Dos 1337 políticos com mandato nesse período, 250 não se mantiveram na vida pública ou não ascenderam a outros cargos. Do grupo, 67,6% não disputaram outra eleição após o fim do mandato e 32,4% preferiram cargos de menos destaque. Os dados estão no estudo "Saindo de cena: parlamentares que desistem da carreira eleitoral (1990-2006)", da pesquisadora Renata Florentino (UnB), que será apresentado no 31º encontro da Anpocs.

A falta de apoio nas máquinas administrativas e partidárias atingiu pelo menos 30% desses políticos. Eles saíram do Legislativo e, sem a possibilidade de um mandato, foram nomeados no Executivo.

Uma característica do grupo é o envolvimento em denúncias: 19% aparecem em escândalos como a máfia das ambulâncias. Outra é a profissão: 40,4% são empresários que não se adaptaram à rotina legislativa. Eles preferem financiar os pares a ter o mandato. A idade também os diferencia: a média de idade do grupo é 56,4 anos ante os 51,3 anos dos que continuaram. Em geral, têm pouca experiência no Congresso, com uma média de dois mandatos.

As mulheres entram menos no Legislativo e saem mais. Entre 1995 a 1998, por exemplo, a bancada feminina tinha 32 parlamentares e cinco (16%) saíram do cenário. Já a masculina tinha 481 deputados e 24 (5%) desistiram ou disputaram cargos menores.

A mudança partidária é uma das saídas que muitos usam para se manterem na vida pública. Falta de identificação ideológica ou de espaço no partido podem levar à migração, destaca a pesquisadora, e a maioria das trocas acontece dentro do mesmo bloco ideológico. A decisão do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, de que o mandato pertence ao partido, recairá diretamente sobre os políticos. "Muitas trocas não significam mudanças ideológicas", pondera Renata. "Por mais que seja necessário um controle, essa é uma forma radical de limitar. Pode não resolver os problemas estruturais." (CA)