Título: Renan tenta cooptar senadores com o discurso da humildade
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Política, p. A7

Em campanha para tentar preservar seu mandato, o presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve retomar nesta semana as atividades de senador com três objetivos em mente, segundo aliados: reconstruir pontes com colegas, articular sua sucessão na presidência e trabalhar pela aprovação da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) para não ser responsabilizado por eventual derrubada.

Em 11 de outubro, depois de quatro meses sob denúncias, Renan pediu licença do cargo por 45 dias. Na semana passada não foi ao Senado, esperando baixar a poeira da crise. Mas não descansou. Procurou colegas em busca de aparar arestas criadas no período da crise.

Segundo colegas, a expectativa é que voltará mostrando humildade, pois precisa de votos para tentar preservar o mandato, no caso de alguma das cinco representações contra ele no Conselho de Ética for a julgamento do plenário.

Saindo aos poucos do seu isolamento, Renan tem telefonado a alguns e enviado recados de aproximação a outros. Visitou Heráclito Fortes (DEM-PI) na casa dele, na quinta passada. Na véspera, assistiu ao jogo entre Brasil e Equador no apartamento do conterrâneo João Tenório (PSDB-AL), que chamou três senadores tucanos mais próximos para uma conversa informal com ele.

A tentativa de pacificação não está restrita à oposição. O alagoano quer recuperar o apoio dos petistas - Aloizio Mercadante (SP) à frente - e se reaproximar de pemedebistas com quem mantinha bom relacionamento e por quem considera abandonado, como Garibaldi Alves (RN). Tenta comovê-los com o "discurso da humildade": demonstra mágoas, diz ter sido muito massacrado, garante ter se afastado para não prejudicar a instituição, admite a possibilidade de renunciar no futuro e pede apoio para manter seu mandato.

Nas conversas, Renan insiste num ponto: não quer ser acusado de inviabilizar a prorrogação da CPMF. Renan tem conversado por telefone com o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) sobre a tramitação da proposta de emenda constitucional.

Preocupado com a movimentação de pré-candidatos do seu partido à presidência do Senado, como Garibaldi Alves, e com a desenvoltura com que o vice-presidente da Casa, Tião Viana (PT-AC), está exercendo o cargo durante sua licença, Renan tratou de vazar o desejo de ver José Maranhão (PMDB-PB) como seu sucessor. Seria o nome de sua confiança. Com o gesto, pretende frear movimentação em torno de Garibaldi, apoiado por setores da oposição, e desestimular eventuais apoios ao líder Valdir Raupp (RO) - que seria o candidato natural do partido, pelo cargo que ocupa na bancada.

Sem força para eleger o sucessor, Renan e seu grupo têm poder de fogo para bombardear candidaturas. Maranhão tem dito que não quer o cargo. Alega a possibilidade de assumir o governo da Paraíba, caso Cássio Cunha Lima (PSDB) seja cassado. Para pemedebistas, há outras razões para a recusa: o receio de denúncias.

Ex-governador, Maranhão transita bem no Senado e não assume posições que lhe causem desgaste. Segundo um oposicionista, ele "não tem posição nem indisposição". Outro nome do grupo de Renan é o do ministro Hélio Costa, que mostra disposição para voltar ao Senado. Mas falta ingrediente fundamental: apoio dos colegas.