Título: Marta e Tarso Genro lançam candidatos contra Berzoini
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Política, p. A8

Ruy Baron/Valor - 26/7/2005 Cardozo: "Estamos com o mesmo percentual. Vamos decidir no voto quem vai para o segundo turno com o Berzoini" As eleições diretas para a presidência do PT (PED), marcadas para dezembro deste ano, vão definir quem dará as cartas na legenda até dezembro de 2009 - um ano antes da sucessão presidencial, a primeira desde a redemocratização sem que Lula possa ser candidato. Por isso, dois petistas que sonham com o Planalto em 2010 lançaram candidatos para tentar desbancar o campo majoritário (atual Construindo um novo Brasil): Marta Suplicy apóia a candidatura do deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP) - que será lançada amanhã, em Brasília - e Tarso Genro lançou o nome de José Eduardo Cardozo (PT-SP).

Nem Marta, nem Genro, admitem abertamente que a disputa de dezembro servirá como cacife para vôos eleitorais mais ambiciosos no futuro. Mas o discurso dos respectivos candidatos é unificado contra o antigo campo majoritário. Tanto Cardozo quanto Tatto afirmam que a principal bandeira de campanha é tornar o partido mais democrático internamente, retirando do poder o grupo que controla a legenda desde 1994 (o candidato do ex-campo majoritário é o também deputado federal Ricardo Berzoini).

"Precisamos construir uma nova hegemonia partidária. O campo majoritário comanda o partido na base da força, não da autoridade", afirmou Tatto. "O sentimento que nos une neste momento é a construção de uma nova unidade partidária, baseada nos limites da ética", completou Cardozo.

Tatto arregimentou apoios na sua própria tendência (PT de Lutas e de Massas) e uniu-se a Novos Rumos e Movimento PT, cuja principal estrela atualmente é o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Quando o candidato do ex-campo majoritário ainda era Marco Aurélio Garcia (candidato preferencial de Lula), o deputado martista não escondia o entusiasmo diante da possibilidade de eleger-se presidente do PT.

Só que a cúpula dirigente do partido rachou e Ricardo Berzoini foi chamado para concorrer à reeleição. "Continuamos com a nossa conta de 20 a 25% dos votos no Diretório Nacional. Vamos para o segundo turno contra Berzoini", garantiu Tatto.

A candidatura de Cardozo surgiu justamente da desistência de Marco Aurélio. Segundo ele, quando o campo majoritário resolveu confirmar Berzoini, sepultou a idéia de uma candidatura "descolada de tendências ou grupos partidários". A própria candidatura de Cardozo é fruto disso. Tarso Genro conseguiu atrair para esta candidatura a Democracia Socialista (DS). E unificou os petistas gaúchos - ele, Olívio Dutra e Raul Pont. A exceção é Maria do Rosário, que faz parte do Movimento PT.

A "salada" é tão grande que Cardozo prefere falar em nomes, não tendências. Ele garante contar com o apoio do governador de Sergipe, Marcelo Déda; dos prefeitos João Paulo (Recife), Luizianne Lins (Fortaleza), João Cozer (Vitória), Elói Pietá (Guarulhos), Lindberg Farias (Nova Iguaçu). A matemática é a mesma da candidatura Tatto: "Estamos com o mesmo percentual. Vamos decidir no voto quem vai para o segundo turno com o grupo de Berzoini", estima ele.

A disputa entre os grupos vem desde o Congresso Nacional do PT. De todas as diversas tendências petistas, o grupo de Berzoini foi o único que não defendeu explicitamente uma candidatura própria do PT em 2010, influenciado pelo presidente Lula, que não tem a menor disposição em antecipar o debate sucessório. O grupo de Marta defendeu a primazia do partido de lançar candidato e Tarso Genro seguiu na mesma linha, embora, com a habilidade de ex-ministro da coordenação política, tenha avisado que essa construção deveria ser feita em consonância com a opinião dos partidos da coalizão.

Enquanto suas equipes cabalam votos, Genro e Marta continuam as atividades ministeriais - um na Justiça, outra no Turismo. Não se envolvem diretamente nas campanhas, mas pessoas próximas a eles reconhecem que planos futuros, embora não explícitos, não podem ser descartados. "Evidentemente, todo ser político do PT sonha em ser presidente da República um dia", confirmou um aliado de Genro. "A ex-prefeita não entra nesse debate. Mas não daríamos um passo dessa envergadura sem a anuência dela", emendou um martista.

Mais do que eleger ou não o futuro presidente do PT - o que seria uma grande vitória, evidentemente - está em jogo a capacidade de influenciar os rumos da legenda. Numa eleição de PED, além do presidente do partido, dos presidentes estaduais e municipais, são eleitas as chapas para compor os diretórios nacional, estaduais e municipais. Os vencedores majoritários poderão não ter maioria nos diretórios, o que tornaria mais complexa a negociação de acertos políticos futuros.

Genro e Marta sempre transitaram com facilidade no grupo majoritário. A comunicação fácil de Genro foi rompida na época em que assumiu a presidência do PT e abriu fogo contra José Dirceu, defendendo uma refundação petista. Marta fez o caminho inverso: preterida por Aloizio Mercadante para o governo de São Paulo em 2006, fortaleceu-se elegendo pessoalmente cinco federais e dois estaduais, coordenou o segundo turno da campanha de Lula em São Paulo e aceitou vir para a Esplanada para uma pasta aquém do que esperava.

Sem Lula no páreo direto, ambos buscam medir e ampliar forças na legenda para garantir apoio e sustentabilidade política interna mais para frente. E não deixam de levar em conta também a força do presidente como cabo eleitoral em 2010. Permanecem no governo, ajudando no segundo mandato e sonhando com a unção lulista quando a sucessão for deflagrada.