Título: Capital privado estréia em São Paulo
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Especial, p. A14

Uma promessa não cumprida vai mudar a história do carnaval paulistano. A ex-prefeita Marta Suplicy, do PT, comprometeu-se a bancar o orçamento do carnaval, no valor de R$ 18 milhões. Mas, às vésperas da posse de José Serra, ela havia destinado apenas R$ 1 milhão. Deixou o restante de herança para o novo prefeito, que arcou com R$ 2,65 milhões e teria se empenhado, pessoalmente, em ajudar os organizadores da festa a passar o chapéu. Quem conta a história é o presidente da Anhembi Turismo e Eventos, Caio Luiz de Carvalho. "Conseguimos, em menos de dez dias, arrecadar R$ 10 milhões em patrocínio", diz. Pela primeira vez na história, São Paulo terá o seu carnaval financiado por empresas, sejam privadas ou não. "Aqui o carnaval, por lei, ainda é patrocinado pela prefeitura, mas a partir deste ano, isso vai mudar, pois esse modelo é jurássico." Seja como for, a verdade é que empresas como Casas Bahia, TIM, Telefônica, Vivo, Mastercard, Eletrobrás, Petrobras, Infraero e Sabesp decidiram abraçar a folia paulistana, desembolsando recursos de R$ 100 mil a até milhões de reais. A Casas Bahia é a maior patrocinadora. Sozinha, vai entrar com R$ 5 milhões, sendo metade desse valor como permuta pela locação do centro de convenções Anhembi, onde a rede faz a sua megaloja no final do ano. Quem não aplicou recursos diretamente deu sua colaboração de outra maneira. A Cavalera ajudou nas camisetas, a Seara, com o frios, e a Red Bull, com energéticos. "O importante é que conseguimos apoio", diz Carvalho. As colaborações dessas empresas vão ser usadas no amplo camarote, com espaço para 2 mil convidados, que antes era utilizado pela prefeitura. Desta vez, as patrocinadoras é que vão usufruir do camarote. A TV Globo, dona dos direitos de transmissão do carnaval, vendeu duas cotas de patrocínio este ano para Kaiser e Nestlé. Por R$ 13 milhões (preço cheio de tabela), as companhias terão direito a 509 inserções durante 43 dias. O carnaval paulista está sob os cuidados da Dimep/GPS, responsável pela venda e fabricação de ingresso eletrônico, controle de acesso, segurança e cronometragem dos desfiles. A empresa também ajudou a contornar a falta de verba: antecipou para a Liga das Escolas de Samba R$ 2,8 milhões dos R$ 3,8 milhões previstos com arrecadação de bilheteria. A idéia da empresa é conquistar o público com diferenciais em relação ao carnaval carioca. "Queremos oferecer comodidade", diz o sócio Josué Dimas de Melo Pimenta. Em São Paulo, por exemplo, a venda de ingressos é feita por telemarketing e há a possibilidade de entrega em domicílio. Além disso, os ingressos podem ser parcelados em até quatro vezes com boleto bancário ou cinco vezes no cartão. A Dimep também entrega os camarotes decorados (incluindo móveis e aparelhos eletrônicos), com serviço de transporte de vans e de bufê - o contrato deste ano foi fechado com o Hotel Intercontinental. "Em São Paulo, as pessoas querem as coisas resolvidas", diz. Segundo Pimenta, essas iniciativas fizeram com que o público das áreas vips (camarote, mesa e cadeira de pista) dobrasse em três anos. Para este ano, são previstas cerca de 12 mil pessoas por dia nesses espaços e um público de cerca de 28 mil na arquibancada. "Cerca de 80% dos camarotes foram comprados por empresas, o que mostra uma tendência que já é muito forte no Rio", afirma.