Título: Grandes empresas bancam o carnaval
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Especial, p. A14

Em seu samba histórico "Bum, Bum Paticumbum Prugurundum", a Império Serrano criticava a profissionalização do carnaval, no início da década de 80. Era o que os compositores chamavam de "superescolas de samba S.A". Desde então, muita coisa mudou e o investimento privado na festa tornou-se essencial para os dois lados: serve de vitrine privilegiada para grandes companhias e fonte de sustento imprescindível para as escolas de samba. Enquanto no Rio, apenas as escolas de samba receberão R$ 10 milhões, o maior volume de patrocínio de sua história, em São Paulo pela primeira vez a folia, orçada em R$ 14 milhões, será bancada maciçamente por empresas e não pela prefeitura. Já o Nordeste tornou-se palco das empresas de telefonia, que vão disputar com as cervejarias o título de principais financiadoras da festa. Antes restritas à compra de luxuosos camarotes na Marquês de Sapucaí - onde o mais barato sai por R$ 15 mil - as companhias também vislumbraram no patrocínio das escolas de samba um meio para divulgar suas marcas mesmo que discretamente, até porque a Liga das Escolas de Samba (Liesa) não permite propaganda explícita na avenida. Não foi por acaso que Petrobras, Eletrobrás, TIM, Nestlé, entre outras gigantes, resolveram investir quase R$ 10 milhões este ano no desfile carioca. Com exceção da Petrobras, as companhias não divulgam oficialmente os valores, mas pelas contas dos presidentes das escolas de samba, será o carnaval mais bem pago dos últimos anos. "Hoje os patrocínios se tornaram fundamentais", diz o presidente da Grande Rio, Hélio Ribeiro de Oliveira. A Liesa repassa às escolas cariocas cerca de R$ 2 milhões por ano referentes a um percentual do montante arrecadado com a venda de ingressos (que depende da colocação da agremiação no ano anterior), parte da cota de televisão e também uma ajuda de custos da prefeitura da cidade. A escola de Caxias, na Baixada Fluminense, será patrocinada pela Nestlé, que também fechou contrato com a Liesa para ser a marca de sorvetes oficial do carnaval carioca. A empresa terá ainda dois pontos comerciais de venda de produtos na Sapucaí, além de ser cotista da Rede Globo. A escola, que vai apresentar o enredo "Alimentar corpo e alma faz bem" contou com patrocínio de R$ 2,5 milhões da Nestlé e desbancou a Companhia Vale do Rio Doce, que investiu R$ 2 milhões no carnaval da escola em 2003. O diretor de comunicação da Nestlé, Mário Castelar, não confirma os valores, mas enfatiza que o objetivo da companhia foi reforçar a marca junto ao público e fortalecer o chamado marketing de relacionamento. Para isso, também comprou um camarote na Sapucaí, onde vai levar clientes e fornecedores importantes. "O valor da marca é maior do que o valor dos ativos fixos. É nesta parte intangível que estamos trabalhando", disse Castelar. Com o enredo "Mangueira energiza a avenida Carnaval é pura energia e a energia é o nosso desafio", a Estação Primeira cativou as estatais do setor, Petrobras e Eletrobrás, e recebeu o maior patrocínio das escolas de samba do grupo especial, R$ 4,5 milhões, dos quais R$ 3,5 milhões da Petrobras e cerca de R$ 1 milhão da Eletrobrás. É o maior patrocínio da história da escola. Coincidência ou não, o enredo incluiu no samba um jogo de palavras com o slogan da estatal do petróleo, no trecho que diz "a energia é o nosso desafio". De acordo com a Petrobras, o enredo vai de "encontro ao esforço de reposicionamento da estatal como empresa de energia". E para fechar com chave de ouro as comemorações pelos 50 anos, completados em 2003, a Petrobras também comprou um camarote vip, que contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do presidente da estatal, José Eduardo Dutra, e de toda a diretoria. Procurada, a Eletrobrás preferiu não comentar sua participação no carnaval da Mangueira. Já veterana no patrocínio de blocos pelo país afora, a TIM, empresa do grupo Telecom Italia, resolveu reforçar sua participação no carnaval carioca, patrocinando pela primeira vez uma escola de samba: Mocidade Independente de Padre Miguel, que mostrará na avenida a cultura italiana com o enredo "Buon mangiare, Mocidade! A arte está na mesa". Só no carnaval da escola, de acordo com o presidente da Mocidade, Paulo Vianna, a empresa vai investir R$ 700 mil. Outros R$ 700 mil serão aplicados nos programas sociais da Mocidade junto às comunidades de Padre Miguel. A TIM também terá um camarote na Sapucaí, com capacidade para 150 convidados por noite. "O foco do camarote é o marketing de relacionamento. Quanto ao patrocínio, apostamos no retorno em termos de construção de marca", disse o diretor de publicidade da TIM Brasil, James Rubio. Na onda do enredo "Singrando os mares e construindo o Brasil", a Vila Isabel volta ao Grupo Especial e conta com o apoio da Transpetro e dos estaleiros Mac Laren, Fels Setal, Mauá Jurong e Acker, controlado pelo grupo norueguês Aker Yards. As contribuições já somam R$ 1 milhão. O enredo custará R$ 4,5 milhões. Defensor da indústria naval do Estado do Rio, o secretário estadual de energia, indústria naval e petróleo, Wagner Victer, convocou ainda uma tropa de 200 investidores para desfilar na Sapucaí. "Vamos contar na avenida o renascimento da indústria naval fluminense. Cada carro alegórico representará um tipo de embarcação", diz Victer.