Título: PMDB sugere a Lula que busque votos dos dissidentes
Autor: Lyran , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2007, Política, p. A9

Com o julgamento do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado licenciado, na terça-feira, começam as articulações da bancada do PMDB para a escolha do futuro presidente da Casa. As negociações se mantêm nos bastidores, já que a sucessão depende da provável renúncia de Renan ao cargo. Uma coisa é tida como certa entre os pemedebistas: haverá disputa entre os senadores pela vaga.

O plenário vota na terça-feira a segunda representação contra Renan. A expectativa é que seja absolvido. Mesmo assim, a renúncia ao cargo é tida como certa, embora haja dúvida sobre o momento - se antes ou depois da votação no plenário.

O governo teme que o processo sucessório cause ainda mais turbulências às negociações da prorrogação da CPMF. Com a renúncia, novas eleições para presidente do Senado precisam ser convocadas após cinco dias úteis. Por isso, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), decidiu propor antecipar a votação do primeiro turno para o dia 6.

A previsão inicial era votar entre os dias 12 e 14. Os pemedebistas esperam concluir as articulações para escolha do sucessor de Renan antes do segundo turno da votação da CPMF, que deve ocorrer entre 18 e 19 de dezembro. Se o primeiro turno for realizado na data inicialmente prevista, há o risco de coincidir com o processo eleitoral no Senado, contaminando a CPMF.

Entre os nomes mais citados, estão o pemedebista histórico Neuto de Conto (SC) - senador de primeiro mandato - e Garibaldi Alves (RN) - o único que lançou sua candidatura publicamente. A ala mais ligada ao Planalto não descarta totalmente José Sarney (AP), embora o próprio rejeite retornar ao cargo. Pedro Simon (RS) tem seus defensores, mas governistas apontam, como problema, o fato de ele não ser considerado "confiável" . Até mesmo Valter Pereira (MS) - ora independente, ora alinhado ao governo - teria se colocado como opção.

Os senadores do PMDB querem que o presidente Lula converse com aliados dissidentes - incluindo os do próprio PMDB - em busca de votos pela CPMF. A sugestão foi dada ao ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, em jantar na quarta-feira. As lideranças da legenda e do governo contam como perdidos os senadores Mão Santa (PI) e Jarbas Vasconcelos (PE). Simon segue indeciso e o senador Geraldo Mesquita (AC), que acusa o Planalto de assédio moral, não retorna os telefonemas do coordenador político.

A sugestão não se restringiu ao PMDB. Segundo Garibaldi, Lula deveria conversar também com outros parlamentares, especialmente os que deixaram o DEM em direção à base, mas que ainda não confirmam se votarão com o governo. É o caso de César Borges (PR) e de Romeu Tuma (PTB). "O ministro ouviu nossas ponderações e prometeu repassá-las ao presidente ", declarou Garibaldi.

Nenhum dos quatro refratários à CPMF compareceu ao jantar. Simon alegou ter outros compromissos. Acrescentou que, se não fosse isso, teria ido ao jantar e que a sua presença ou ausência não significa decisão de voto: "Estou tão confuso que nada mudaria nesse momento. Minha decisão será tomada mais perto da sessão, vou questionar minha consciência sobre o que devo fazer".

Jarbas disse não ter ido ao jantar porque seria debatida a CPMF. "Estaria perdendo meu tempo", disse. O líder do partido na Casa, Valdir Raupp (RO), conta com o voto de Simon e acha possível reverter as resistências de Geraldo Mesquita. O acreano reclamou de assédio moral, do assessor da Secretaria de Relações Institucionais, Marcos Lima, que o teria procurado para oferecer liberação de emendas em troca do voto pela CPMF. Desde que a denúncia veio à tona, Múcio tenta, em vão, conversar com Mesquita. "Ele disse que só conversa com as lideranças do PMDB, que não quer saber de papo com o Planalto", disse Raupp.