Título: EUA tentam barrar o avanço desses investimentos
Autor: Washington
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Especial, p. A12

Os Estados Unidos e outros países avançados começaram a jogar duro para tentar frear o avanço dos gigantescos fundos de investimentos que diversos países emergentes lançaram para adquirir ativos no exterior, mas as primeiras reações a esse movimento sugerem que eles terão pela frente uma difícil batalha para alcançar seu objetivo.

Representantes de governos que patrocinam esses fundos e investidores que acompanham seu desenvolvimento há algum tempo criticaram a iniciativa dos países ricos nos últimos dias, classificando como protecionista e discriminatória a adoção de barreiras regulatórias diferentes das que existem para outras instituições financeiras.

Conhecidos como fundos de riqueza soberana, esses veículos administram hoje mais de US$ 2 trilhões em ativos. Países como a China e produtores de petróleo como a Arábia Saudita têm usado esses fundos para diversificar a aplicação das suas reservas e recentemente começaram a usá-los para adquirir participações em bancos e grandes empresas.

"O crescimento desses fundos é inevitável e tentar enquadrá-los com regras especiais de conduta seria um equívoco", disse ao Valor Nasser Al Shaali, executivo-chefe do Centro Financeiro Internacional de Dubai, uma organização criada pelo governo de Dubai para desenvolver um mercado de capitais regional nos Emirados Árabes Unidos.

Numa conferência organizada pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF) à margem da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), Shaali propôs uma discussão mais ampla, que incluiria fundos de hedge e outras instituições pouco reguladas, livrando os fundos soberanos do foco exclusivo sugerido pelas nações avançadas.

Na sexta-feira, o assunto foi um dos temas principais de uma reunião dos ministros das finanças do G-7, grupo que representa os países mais desenvolvidos (Alemanha, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido). O comunicado que o grupo divulgou após o encontro pede que o FMI e outras instituições multilaterais definam um código de conduta para os fundos soberanos.

No dia seguinte, os 24 ministros que compõem o Comitê Monetário e Financeiro Internacional, um grupo maior que inclui representantes de países emergentes e se reúne duas vezes por ano para rever a atuação do FMI, defendeu o lançamento de um "diálogo para identificar melhores práticas", mas salientou a "importância de resistir ao protecionismo e manter um sistema financeiro global aberto".

O economista Edwin Truman, um ex-funcionário do Tesouro dos Estados Unidos que hoje trabalha no Instituto Peterson para a Economia Internacional, um influente centro de estudos, deu uma amostra do que está por vir ao apresentar na semana passada várias sugestões para um modelo de avaliação desses fundos.

Truman construiu um índice em que classificou 32 fundos conforme vários critérios em que procurou avaliar seu grau de transparência, sua motivação e a influência dos governos sobre suas decisões. Fundos administrados pela Nova Zelândia e pela Noruega receberam a melhor pontuação. Fundos dos Emirados Árabes Unidos ficaram com as notas mais baixas.

"Esses fundos são patrocinados por governos e por isso merecem atenção especial e precisam ser mais transparentes", disse Truman. "Aplicar as melhores práticas do mercado à sua gestão é do interesse desses países, porque é isso que os ajudará a combater barreiras protecionistas contra seus investimentos", afirmou o economista.

Num seminário do Instituto Peterson em que Truman apresentou seu índice na última sexta-feira, a proposta foi bastante criticada pelo presidente da Harvard Management Company, Mohamed El-Erian, que administra um fundo bilionário formado pelas doações recebidas pela Universidade Harvard e é uma voz influente no mercado.

Ele reconhece que os fundos soberanos são pouco transparentes, mas sugere que se lide com cuidado com a questão. "Alguns desses fundos estão há vários anos no mercado e são investidores muito sofisticados", afirmou El-Erian. "Se vocês tornarem a vida miserável para eles, esses fundos passarão a usar veículos ainda mais opacos para fazer seus investimentos." (RB)