Título: Especulação puxa preço das commodities
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Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Empresas, p. B6

Quando os preços do petróleo passaram dos US$ 89 por barril na semana passada, a tentação foi procurar uma explicação na geopolítica. Muitos apontaram para a possível incursão de soldados turcos no norte do Iraque. Alguns acharam que a alta do ouro para o maior patamar em 27 anos foi puxada pelo mesmo motivo.

O mercado de commodity, no entanto, vem sendo afetado por mais do que apenas os acontecimentos no Oriente Médio. Os preços das matérias-primas apresenta aumentos generalizados, em meio às conversas de um "superciclo" econômico. Cobre, chumbo, soja, trigo, algodão, café, cacau e gado de corte registraram valorizações superiores a 10% neste ano.

Algumas das elevações remontam ao aumento do petróleo. O plano de substituir petróleo por etanol elevou o plantio de milho, que tirou terras de outras culturas, como a soja, e levou à alta dos preços. O aumento do valor dos rebanhos, por sua vez, pode ser explicado pelo custo maior com grãos.

A força das commodities também pode refletir o apelo do setor como um "ativo alternativo", assim como os fundos de hedge e private equity. Desde o estouro da bolha das empresas pontocom, os investidores mostram-se ávidos por diversificar os investimentos além das ações e bônus governamentais. O cenário levou ao lançamento de uma série de ETFs, fundos negociados em bolsa como se fossem uma ação, baseados em commodities, o que as tornou acessíveis a um grupo muito maior de investidores. O exemplo mais recente, do Barclays Global Investors, grande gestor de ativos, é um fundo baseado nos preços da madeira. Wall Street vem se adaptando para atender a demanda: pesquisa da consultoria de recrutamento Options Group revela que a contratação de operadores de commodity aumentou 33% nos últimos 12 meses.

A recente crise de crédito pode ter dado mais impulso às commodities. O dinheiro especulativo que fluía para os bônus de altos rendimentos e o crédito estruturado agora procura um novo lar. Algumas commodities, particularmente o ouro, também são vistas como proteção contra a desvalorização do dólar.

O estrategista de metais Robin Bhar, do UBS, avalia que os investidores parecem sentir que suas apostas nos preços das commodities valem para qualquer direção da economia. Tanto para o caso de a expansão econômica global continuar forte e a oferta, estreita, ou para caso de o mundo cair em uma estagflação, como nos anos 70. As commodities teriam bom desempenho em qualquer caso.

As apostas, claro, também poderiam resultar em perda de dinheiro, se o mundo caísse em recessão sem inflação. Os investidores, contudo, parecem sentir que a economia global pode superar os problemas do mercado residencial dos Estados Unidos. Peter Oppenheimer, estrategista do Goldman Sachs, diz que os altos preços dos metais refletem a força dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), responsáveis pelo dobro do consumo mundial do que o dos EUA.

Separadamente, os preços das commodities ainda são muito voláteis, influenciados pela demanda especulativa. Um forte aumento tende a atrair os investidores de "ocasião", que empurram os preços ainda mais para cima, até que os usuários finais comecem a procurar alternativas. Nesse ponto, os compradores de ocasião recuam. No caso do petróleo, as atrações aumentaram recentemente porque o mercado entrou em um cenário no qual os preços futuros estão mais baixos do que os à vista. Os investidores poderiam ganhar com o carregamento de contratos futuros, esperando que o preço suba até o nível da cotação à vista.

O principal fator, no entanto, é a oferta estreita. Francisco Blanch, da Merrill Lynch, avalia que a oferta caiu em 500 mil barris diários no terceiro trimestre, enquanto os países mais desenvolvidos entraram no quarto trimestre com seu estoque mais baixo em quatro anos. Blanch reconhece que não seria necessário muito mais para levar o preço à marca de US$ 100 por barril. Se esse ponto for atingido, os mercados acionários poderiam deparar-se como um interessante teste de confiança.