Título: Frete marítimo bate recorde e pode forçar alta de matérias-primas
Autor: Matthews, Robert Guy
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Empresas, p. B8

O custo de transportar commodities pelo oceanos chegou ao nível mais alto da história, graças à contínua expansão do comércio mundial, o que tem pressionado a alta do preço de grãos, minério de ferro e outras matérias-primas. O custo médio do aluguel de um graneleiro para o transportar de matéria-prima do Brasil à China quase triplicou, passando de US$ 65.000 por dia um ano atrás para US$ 180.000. Em alguns casos, como no do minério de ferro, o custo de se fretar um navio é maior do que o da própria carga. O minério de ferro custa cerca de US$ 60 a tonelada, mas as transportadoras estão cobrando em torno de US$ 88 por tonelada para levá-lo de um porto a outro. A tendência pode forçar as indústrias a pagar mais caro pela matéria-prima. Para consumidor final, o perigo reside na possibilidade de os custos mais altos serem repassados e afetarem o preço de todo tipo de mercadoria, dos automóveis às máquinas de lavar roupa e ao pão de cada dia. O preço do frete está em alta principalmente por um motivo: não há graneleiros suficientes. A acentuada alta do frete passou de maneira geral ao largo de outros tipos de embarcações, como petroleiros ou os navios de contêiner que transportam televisores, porque não há escassez deles. O índice Ballic Exchange Dry (BDI), o mais importante indicador para fretes de commodities a granel, bateu recorde na sexta-feira. As empresas de carga, os agentes marítimos e os traders de commodities se preparam para fretes ainda mais altos durante o ano que vem e possivelmente 2009, quando novos graneleiros entrarão em serviço. ""Todos os armadores estão ganhando uma fortuna porque o mercado nunca viu esses preços atuais¿ -, disse John P. Dragnis, diretor comercial da Goldenport Inc., de Atenas, uma das maiores empresas do mundo ele transporte marítimo de commodities. A falta de navios decorre do volume crescente de comércio causado pelo crescimento na China, Índia e outros países em desenvolvimento, que vivem um crescimento explosivo. A voraz indústria manufatureira da China a levou a buscar matéria-prima mais longe, como o minério de ferro brasileiro. A situação também causa congestionamento nos portos. Nos portos brasileiros, os navios podem esperar até duas semanas pela sua vez de receber a carga, ancorados no oceano de modo bem parecido WII1 os aviões que ficam na pista à espera de um portão de desembarque, Na semana passada, 131 navios esperavam para receber ou entregar carvão e minério de ferro nos principais portos da Austrália, segundo o Global Ports Congestion Index, que acompanha o tempo de espera em portos do mundo inteiro.Esse número é 35% maior que no mesmo período no ano passado. Em vez de depender apenas das empresas de transporte marítimo e pagar frete mais caro,alguns produtores de commodities começaram a comprar ou fretar seus próprios navios, A siderúrgica Corus Group, subsidiária da Tata Steel, pagou US$ 135 milhões por um contrato de afretamento, ou utilização, de um navio graneleiro com sete anos de uso. Outras empresas dizem que podem desativar operações se não conseguirem um navio ou justificarem o frete maior quando chegar a hora de renovar os contratos. A mineradora Rio Tinto PLC acabou de receber um novo navio e espera receber em breve mais quatro, para transportar bauxita, uma matéria-prima importante na produção do alumínio. A Rio Tinto fez o pedido em 2004, antes que o preço do frete aumentasse. Christian Wust, diretor-presidente da Vimetco, uma fabricante holandesa de alumínio com fundições na China e Romênia, diz que o frete mais caro pode forçar a empresa a cancelar a reabertura de uma refinaria na Romênia. "Neste momento continuamos a planejar a reabertura, mas só se conseguirmos um frete mais barato" A Vimetco havia fechado um contrato de transporte de carga a um preço muito mais baixo do que o do frete avulso de agora. Mas quando os contratos terminarem, tudo mundo terá de enfrentar um frete mais caro. E no caso da Vimetco, isso pode significar a diferença entre continuar nos negócios ou fechar as portas. Além da demanda maior oriunda da China, Índia e Oriente Médio, há outros fatores responsáveis pelo rápido aumento no frete, diz Christopher G. Combe, analista de transporte marítimo da Jefferies International Ltd. Ele diz que os navios passaram a fazer percursos mais longos, na medida em que commodities são compradas e vendidas ao redor do mundo. Por exemplo, a China costumava comprar da Austrália, que é relativamente próxima, uma grande fatia de seu minério de ferro. Mas uma porcentagem cada vez maior vem do Brasil. "Basicamente, a China e a Índia vêm buscando fornecedores um pouco mais distantes. Muito da demanda asiática atual tem de ser alimentada pelas minas da América do Sul, então as viagem ficaram mais longas." Outro fator por trás da demanda maior por transporte marítimo é a safra de soja relativamente baixa na Ásia, Sem conseguir satisfazer internamente a própria demanda, a região começou a importar mais soja dos Estados Unidos. As mineradoras de ferro vêm tentando se manter à frente do frete mais caro, ao forçar as siderúrgicas a pagar mais caro pelo minério, Roger Agnelli, diretor-presidente da Vale do Rio Doce, disse que o frete caro é "uma distorção do mercado", mas que apesar disso ele não deve mudar no curto prazo. Segundo a Simpson,Spence and Young, agência de navegação que também compila estatísticas sobre o setor, os portos do mundo bateram recordes de tonelagem nos primeiros oito meses do ano, o que mostra forte movimento da exportação e importação. Os portos brasileiros exportaram 167, I milhões de toneladas nos primeiros oito meses do ano, quase 10 milhões a mais que no mesmo período em 2006. Enquanto isso, estaleiros no Japão, Coréia do Sul e China estão ocupados com pedidos para novos graneleiros. Cerca de 200 navios desse tipo circulam os mares atualmente. Alguns analistas calculam que o número de graneleiros deve dobrar no início da próxima década.