Título: Países da América Central de olho no álcool combustível
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Agronegócios, p. B13

Anna Carolina Negri/Valor Para Martins Borges, da Job, EUA irão absorver produção da América Central O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) já deu início ao programa de produção de álcool nas Américas. O economista Júlio Maria Martins Borges, presidente da consultoria sucroalcooleira Job Economia e Planejamento, foi contratado em julho pela instituição para criar um modelo de preços para o combustível nos países da América Central.

O primeiro passo, em curso, foi o financiamento de pesquisas para levantar o potencial de produção de álcool nesses países e também no Caribe. "Neste primeiro momento, o BID tem fomentado os governos desses países a fazer estudos para levantar o potencial de produção, barreiras à introdução do programa e a viabilidade industrial", diz Martins Borges. "O próximo passo é o BID ajudar no financiamento de usinas."

Os países em foco - Panamá, Honduras, El Salvador, Guatemala, Costa Rica, República Dominicana e Nicarágua - somam uma área de 700 mil hectares com cana plantada, boa parte processada para a produção de açúcar (cerca de 5 milhões de toneladas no total). A área nesses países deve saltar para 1,05 milhão de hectares, crescimento de 50%. A Guatemala é o maior produtor de açúcar entre os sete países, com 45% da oferta total.

O economista aponta dois componentes importantes para a implantação do álcool combustível no mercado internacional: a elevação dos preços do petróleo, com a forte dependência de importantes países consumidores pelo combustível, e a limitação para o mercado de açúcar. Os atuais preços do petróleo dão suporte à produção de álcool combustível no mercado internacional. "Os preços do petróleo em US$ 50 (o barril) já viabilizam os projetos."

Segundo ele, a oferta de álcool nesses países poderá atingir de 2 bilhões a 3 bilhões de litros de álcool anuais, somente considerando o incremento da área plantada (de 350 mil hectares) e com o produção do combustível também a partir do melaço da cana. A expectativa é de que os investimentos sejam realizados a partir de 2008, com aportes feitos por investidores locais e também estrangeiros, o que inclui grupos brasileiros. "Os projetos das novas usinas poderiam entrar em operação a partir de 2010."

Segundo Martins Borges, os produtores de cana desses países ainda têm um forte vínculo com a produção de açúcar. "Os produtores ainda resistem à idéia de vincular o preço do álcool ao do petróleo e ao da gasolina. O trabalho do consultor consiste em propor um modelo de preço baseado na cotação dos combustíveis, desvinculado do açúcar. "Nenhum desses países vai ser subsidiado", diz, lembrando que esse mercado é muito protegido. Ele trabalha em um modelo de preços para El Salvador, que poderá servir de padrão para os outros países.

No mercado internacional, os preços do álcool começam a ser desvinculados das cotações do açúcar. "No Brasil, houve essa relação por muito tempo, mas isso está mudando", afirma Martins Borges.

Os países centro-americanos têm uma grande oportunidade ao investir no álcool. "Esses países fazem parte do Cafta-RD (Tratado de Livre Comércio entre a América Central, República Dominicana e EUA) e podem exportar álcool com isenção de tarifas para o mercado americano, sem a limitação de oferta", observa. Esse acordo é diferente do CBI (Caribbean Basin Initiative). Por meio desse tratado, o álcool da região do Caribe entra nos EUA com isenção de impostos, mas limitado a 7% da produção anual de álcool dos EUA.

"O acordo do Cafta-RD não abre uma janela, mas uma porta de oportunidade para esses países para a exportação de álcool. O BID prevê que a demanda americana por álcool deverá crescer", afirma o economista. Segundo ele, os EUA têm condições de absorver toda produção doméstica de álcool e terá demanda para importar o combustível desses países.