Título: Eletrosul retorna ao segmento de geração
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2007, Empresas, p. B10

Custódio, diretor-presidente interino: "A idéia é que a Eletrosul recupere a sua marca como empresa geradora" Quase dez anos depois de vender suas usinas com capacidade instalada de 3,7 mil megawatts (MW) e unidades em construção com mais 2,8 mil MW para a Tractebel, no processo de privatização de 1998, a estatal Eletrosul volta a investir com força na montagem de um novo parque de geração de energia. O retorno, autorizado pela lei que implantou o novo modelo do setor elétrico brasileiro em 2004, começa efetivamente hoje, no rio Ijuí, entre os municípios gaúchos de Roque Gonzales e Dezesseis de Novembro, com o início das obras da hidrelétrica de Passo São João.

Licitada em 2005, a usina terá potência de 77 MW e exigirá investimentos de R$ 260 milhões, bancados exclusivamente pela estatal vinculada à Eletrobrás que hoje opera somente no segmento de transmissão na região Sul e Mato Grosso do Sul. A previsão para o início do funcionamento da hidrelétrica é janeiro de 2010, com a energia já vendida para os próximos 30 anos. "A idéia é que a Eletrosul recupere a sua marca como empresa geradora", disse o diretor presidente interino Ronaldo dos Santos Custódio.

Além da Passo São João, a estatal também obteve, desde 2005, as concessões para as usinas Mauá, no Paraná, e São Domingos, no Mato Grosso do Sul, e para dez pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) em Santa Catarina. Em dezembro, a empresa participa ainda, em parceria com o grupo franco-belga Suez, dono da Tractebel no Brasil, do leilão da usina Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, e no ano que vem deve disputar a construção de Jirau, no mesmo complexo hidrelétrico.

As concessões já garantidas pela Eletrosul, que em 2006 obteve receita bruta de R$ 593,6 milhões, somam potência de 636 MW. A próxima da fila é a Mauá, na qual a empresa detém 49% de participação e Copel, controlada pelo governo paranaense, o restante. A usina será de 361 MW, exigirá aportes de R$ 950 milhões e entrará em operação em 2011. No ano seguinte começará a funcionar a São Domingos, com 48 MW e investimentos de R$ 200 milhões suportados pela Eletrosul.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já assegurou financiamento para as usinas que serão construídas no Rio Grande do Sul e no Paraná, mas a Eletrosul encaminhou pedido para incluir no pacote a São Domingos, licitada em outubro passado, informou Custódio. A expectativa da estatal é que o banco financie 70% do valor dos projetos, disse o executivo.

Ao contrário das hidrelétricas de grande porte, as PCHs não têm contratos de comercialização de energia garantidos por 30 anos. Por isso elas serão construídas em etapas, na medida em que houver demanda para viabilizar financiamentos associados aos projetos. As quatro primeiras devem operar a partir de 2009, com intervalo de cerca de seis meses entre uma e outra. O primeiro lote soma cerca de 50 MW de potência (do total previsto de 150 MW) e investimentos de R$ 200 milhões, bancados somente pela Eletrosul.

Conforme Custódio, uma eventual vitória pela hidrelétrica Santo Antônio, colocaria a Eletrosul na região de maior potencial para desenvolvimento de projetos hidrelétricos no país. Junto com o Suez, que detém 51% de participação no consórcio, a estatal promete uma proposta "competitiva" no leilão.

Com potência prevista de 3,15 mil MW, a usina Santo Antônio exigirá investimentos mínimos de R$ 9 bilhões, mas como faz parte do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal poderá receber financiamento de até 80% do BNDES. A hidrelétrica Jirau está projetada para 3,3 mil MW.