Título: "Rentabilidades devem continuar elevadas depois do ciclo de alta"
Autor: André Vieira e Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Empresas &, p. B5

O presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, avalia que a indústria petroquímica mundial vivenciará um ciclo de alto crescimento. Ele explica que o setor atravessará um período em que a oferta será substancialmente menor do que a demanda, fazendo com que as empresas recuperem rentabilidade. "Mas, depois de 2007, a previsão é que as rentabilidades continuem em patamares elevados." A seguir, a entrevista: Valor: Quais as perspectivas para o setor petroquímico? José Carlos Grubisich: Não há grande investimento importante que possa provocar mudança substantiva na oferta petroquímica antes de 2007. Há eliminações de gargalos na produção, mas nada expressivo. A oferta mundial está crescendo 1,5% a 2% ao ano enquanto a demanda aumenta a 4% a 5% ao ano. O cenário é de recuperação forte das rentabilidades no setor no mundo e no Brasil em 2005 a 2007. No ano passado, vimos o início da recuperação dos preços, a rentabilidade começou a melhorar, estamos prevendo o ciclo de alta da indústria em 2006, o que deve continuar em 2007. Com a entrada das novas capacidades, poderemos ter um ajuste na relação entre oferta e demanda. Mas o ponto importante é que depois de 2007, a previsão é que as rentabilidades da petroquímica no mundo continuem em níveis elevados - elas não devem voltar à situação entre 1999 e 2002. Valor: A China continua puxando o crescimento da demanda? Grubisich: Sim, apesar de a China dizer que passou a controlar a demanda no ano passado. O PIB chinês cresceu 9,5%, mas o crescimento do mercado de plástico é ainda maior. A Índia, outro grande mercado, cresceu acima de 7% e continua crescendo. Valor: O preço do petróleo não pode afetar essa projeção? Grubisich: A tendência é uma queda progressiva e gradual do preço do petróleo. No segundo trimestre, a trajetória deve ser declinante. Primeiro, porque termina o inverno no Hemisfério Norte. Depois, porque o período de alta instabilidade no Iraque deve ter passado, tornando a situação mais conhecida do que é hoje. Com isso, o movimento dos especuladores deve diminuir, baixando a volatilidade neste mercado. Valor: Qual a previsão para os preços? Grubisich: A perspectiva é romper para baixo a barreira US$ 40 no segundo trimestre e chegar ao fim do ano por volta de US$ 35. Tudo isso sujeito a todas as variáveis de natureza política. Valor: E se não caírem? Grubisich: Se o petróleo continuar muito elevado, ele vai afetar, de uma maneira indireta, o crescimento mundial e afetar marginalmente o equilíbrio entre oferta e demanda. Valor: A economia brasileira continuará atraindo investimentos? Grubisich: O Brasil ainda não tem muitos investimentos voltados à exportação, salvo áreas como celulose e minério de ferro, onde a vantagem comparativa é enorme. A maior parte das decisões de investimentos parte do potencial de crescimento do mercado interno e a capacidade de retorno com alta taxa de sucesso. O fato de ter tido um crescimento importante em 2004 trouxe um voluntarismo grande das empresas tanto locais como estrangeiras. Todo mundo avalia que o Brasil vai crescer 3,5% a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005, com crescimento forte na área industrial. Valor: Mas a alta dos juros não desestimula os investimentos porque reduz a demanda interna? Grubisich: Cria um certo stress, mas insuficiente para desestimula-los. Os investimentos estrangeiros devem ter um número mais positivo. (AV e IR)