Título: Braskem se diz preparada para compra de ativos
Autor: André Vieira e Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Empresas &, p. B5

A Braskem, maior empresa petroquímica brasileira, garante estar pronta para acelerar neste ano seu programa de crescimento. Depois de dois anos e meio de ajustes internos e intenso programa para redução de sua dívida, a empresa se diz preparada para avaliar novos negócios, o que pode contemplar a aquisição de ativos no exterior. "A companhia começa 2005 preparada para analisar as oportunidades tanto no mercado interno como para dar início ao seu processo de internacionalização", diz o presidente da Braskem, José Carlos Grubisich. "Não temos um projeto identificado, mas não descarto a compra de ativos", completou. Criada em agosto de 2002, a Braskem, controlada pelo grupo baiano Odebrecht, integrou seis diferentes empresas de primeira e segunda geração. Para Grubisich, esse modelo permitiu ganhos importantes para a companhia, que agora implanta um programa para alcançar as metas de competitividade das empresas petroquímicas mundiais. "Não por acaso que a Braskem tornou-se um modelo de sucesso", diz Grubisich. "Em 2003, as ações tiveram a maior valorização entre as empresas brasileiras na Bolsa de Nova York (alta de 609%). Em 2004, ficou na terceira posição (117%)." Embora não revele quais os ativos de maior interesse da empresa, Grubisich assegura que qualquer passo em aquisição ou fusão levará em conta a premissa de criação de valor. "Não faremos um movimento de endividamento nem a aliança em ativos não-competitivos", disse o executivo. O foco principal da Braskem está na produção de resinas termoplásticas. A meta é correr atrás do lucro econômico, buscando rentabilidade acima do custo de capital. "A Braskem está se preparando para ter uma rentabilidade alta em todos os períodos do ciclo da petroquímica", explicou. Alegando razões estratégicas, a empresa não revela seu custo de capital, mas Grubisich diz que a empresa atingiu em 2004 o objetivo de lucro econômico. A Braskem, cujos resultados financeiros devem ser divulgados no dia 16, deve ter um lucro superior a R$ 780 milhões em 2004, segundo analistas. A Copesul, central de matérias-primas do pólo gaúcho em que a Braskem possui 29,4% do capital, reduziu seu endividamento em 90% e teve lucro recorde de R$ 593 milhões em 2004, 191% maior. Graças a diversas operações financeiras, a Braskem reduziu significativamente seu endividamento. A emissão de mais de US$ 300 milhões em ações e outras operações para captar dinheiro reduziram a relação entre dívida líquida e geração de caixa - medida pela lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) - de sete vezes quando a companhia foi criada para algo inferior a 1,7 vezes no fim de 2004. Grubisich garante que a dívida da Braskem deixou de ser um problema. A meta atual é baixar a proporção da dívida atrelada ao dólar de 70% para 50%. Do lado operacional, a empresa usou acima de 95% da capacidade de suas unidades industriais, localizadas em Camaçari (BA), Triunfo (RS), São Paulo (SP) e Maceió (AL). Para 2005, a intenção da empresa é investir neste ano R$ 600 milhões - o dobro do ano passado. "No mundo, a petroquímica é considerada um setor maduro, mas no Brasil cresce a taxas três a quatro vezes superiores ao Produto Interno Bruto (PIB)", disse.

"A empresa está se preparando para ter uma rentabilidade alta em todos os períodos do ciclo da petroquímica"

Está prevista a eliminação de alguns gargalos na produção de resinas termoplásticas - usadas na indústria de plásticos - como polietileno e PVC, na Bahia e em Alagoas. Existe possibilidade de adicionar mais 100 mil toneladas de capacidade para cada uma das duas resinas. "Nos últimos dois anos, nossa tarefa tem sido eliminar todos os gargalos." Para o futuro, a grande aposta da Braskem é a produção de polipropileno em Paulínia (SP) e o pólo na fronteira com a Bolívia - os dois projetos em parceria com a Petrobras. No primeiro caso, Grubisich diz que a idéia será constituir uma nova empresa com a estatal na qual Braskem terá, em princípio, uma participação majoritária na sociedade, mas o acordo em que se define o tamanho do poder da Petrobras está sendo discutido e espera ser fechado até março. Outros detalhes operacionais serão definidos mais adiante. "Na nossa visão, os sócios devem levar para a empresa o que consideram como oportunidades de criação de valor. Nossa proposta é que a Braskem traga sua competência tecnológica, marketing e comercialização", disse. A unidade, cujos investimento somam algo como US$ 200 milhões, produzirá 300 mil a 350 mil toneladas de polipropileno - algo como 30% da oferta atual da resina. A idéia da Braskem é começar a construção da unidade neste ano para garantir o início de sua operação até o começo de 2007. No caso do pólo petroquímico na fronteira da Bolívia, a empresa deseja construir um megacomplexo, com investimentos de US$ 1,2 bilhão, usando gás do país vizinho. Seria o segundo pólo petroquímico à base de gás - o primeiro, a Rio Polímeros, será inaugurado neste ano. No entendimento da Braskem, o projeto seria desenhado em duas etapas. A primeira seria o processo de separação de gás em que Petrobras e Repsol seriam responsáveis pelo projeto. O segundo seria a fabricação de polietileno com o uso de gás etano, no qual a empresa deseja liderar o processo. A Braskem avalia qual seria o melhor aproveitamento do gás para definir a escala de produção da unidade, que poderia oscilar entre 600 mil toneladas a 750 mil toneladas por ano. A empresa pretende concluir até o fim deste ano o projeto de viabilidade técnica para submetê-lo aos acionistas da Braskem e aprová-lo em 2006. O projeto também contemplaria outros empreendimentos: uma unidade de GLP e uma fábrica de fertilizantes. Grubisich avalia que o papel da Petrobras em estimular os novos investimentos vai na linha certa. "A Petrobras apóia, ajuda as coisas a andar e se dá o direito de investir sozinha se não tiver ninguém disposto a fazer na iniciativa privada." Ele disse que a estatal, que detém 10% do capital da Braskem, ainda não deu nenhum sinal a respeito do direito de exercer a opção para igualar sua participação a dos acionistas controladores. A opção termina em abril. Perguntado se, como acionista, não seria interessante a Petrobras exercer a opção, o executivo disse que "a Braskem, que quando nasceu em 2002 valia US$ 250 milhões e terminou 2004 com uma valorização de mercado de US$ 4,5 bilhões, é uma grande oportunidade de investimento." "A empresa tem um potencial enorme, mas não posso pensar pela Petrobras."