Título: Desmatamento cresce 53% no Estado
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Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Agronegócios, p. B14

O novo "boom" imobiliário nacional alimentado por elevação na oferta de crédito e juros baixos começa a ser traduzido em aumento da exploração madeireira em Rondônia. Ainda não é possível medir o crescimento da atividade industrial, mas dirigentes da Federação das Indústrias de Rondônia (Fiero) já vêem um reaquecimento na extração de madeira.

Dados divulgados na semana passada pelo governo federal mostram uma retomada do desmatamento na comparação entre junho e setembro deste ano com igual período de 2006. Pelas estatísticas preliminares, Rondônia registrou uma elevação de 53% no índice de desflorestamento - em Mato Grosso, a variação chegou a 107%. "Temos sentido um aumento no trânsito de caminhões carregados de madeira em direção ao Sul do Brasil", diz o presidente da Fiero, Euzébio Guareschi.

Um dos maiores fornecedores de madeira para caixaria e de madeirite para a construção civil de São Paulo e do Sul do país, Rondônia é uma espécie de termômetro para avaliar a situação da derrubada da floresta. "Quando a atividade econômica cresce, aumenta a exploração da madeira", afirma Guareschi.

A mais recente onda de desmatamento de Rondônia reflete uma situação histórica das florestas locais. Incentivados a derrubar metade da propriedade para garantir a posse de suas áreas, os migrantes que se instalaram ao longo da BR-364 há mais de 30 anos levaram o Estado a registrar a maior devastação proporcional do país: 28,5% do território estadual foi derrubado, segundo dados coletados pelo IBGE durante a última década.

Em recente estudo sobre as áreas protegidas de Rondônia, o prestigiado Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostra que, até 2004, 6,3% do território das áreas legalmente protegidas de Rondônia já haviam sido desmatados. Foram derrubadas cerca de 6,7 mil km² de florestas. "É uma área expressiva se considerarmos que esse desmatamento é ilegal", diz o pesquisador Adalberto Veríssimo.

O levantamento do Imazon indica que das 84 áreas protegidas, a maioria (51) apresentou pouco desmatamento, inferior a 5% da área total. Em outras 21 áreas, entretanto, a derrubada ficou entre 5% e 20%. Nas demais dez áreas, o desflorestamento já superou 20% do território protegido. As dez áreas protegidas mais críticas de Rondônia são unidades de conservação estaduais, das quais oito são de uso sustentável e duas de proteção integral. Nessas unidades, o desmatamento variou de 23% a 68%. Essas áreas tiveram as maiores taxas anuais (1,6%) de desmatamento entre 1997 a 2004. Nas unidades federais, o índice bateu em 0,8% ao ano desde então.

Responsável pela coordenação das diversas áreas do governo de Rondônia, o secretário estadual de Planejamento, João Carlos Ribeiro, prega uma medida radical para resolver a questão. "Temos que verticalizar a produção madeireira, chegar ao ponto até de impedir a saída da madeira bruta", afirma.

Segundo ele, o licenciamento ambiental conduzido pelo Estado multiplicou por 100 a concessão de planos de manejo. "Se permitirmos 50% da extração, teremos madeira para o resto da vida", acrescenta. Nos planos do governo estadual, está o incentivo ao reflorestamento de áreas desmatadas. "Ainda temos 70% da cobertura vegetal original", diz Ribeiro. (MZ)