Título: Transparência reduz dispersão nos preços dos títulos públicos
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Finanças, p. C2

A divulgação de preços de referência dos títulos públicos durante o andamento dos negócios no mercado secundário tem ajudado de forma determinante a reduzir as disparidades nas taxas. Principalmente no caso dos papéis menos líquidos, os preços efetivamente praticados passaram a se aproximar cada vez mais da média divulgada, minimizando a dispersão. A maior transparência de preços, no entanto, não trouxe aumento no volume de negócios no secundário.

Esse é o resultado de estudo realizado pela Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro). Em setembro do ano passado, a entidade criou o Sistema de Difusão de Taxas dos títulos públicos. Pela primeira vez, preços de referência foram divulgados ainda durante o andamento dos negócios. Antes disso, o preço só era divulgado à noite, para a marcação a mercado, com base nos negócios já realizados no dia.

Desde setembro de 2006, a Andima passou a divulgar uma taxa indicativa às 11h30 da manhã, com base em pesquisa de preços realizada às 11 horas. "Buscamos um grupo representativo de mercado e damos tratamento estatístico aos dados de forma a chegar a um preço de referência significativo", diz Valéria Areas Coelho, superintendente-técnica da Andima. Hoje, a entidade divulga preços de 72 títulos públicos. No início deste ano, a Andima passou a divulgar também no mesmo sistema em diversos horários do dia os preços praticados nos leilões abertos que já eram feitos por cinco corretoras: Ágora, Ativa, Capital Market, Link e Renascença.

"Após a implantação do sistema, houve uma redução significativa na dispersão de preços dos papéis menos líquidos", comenta Valéria Coelho. O gráfico acima mostra claramente como a dispersão de taxas praticadas foi reduzida nas Notas do Tesouro Nacional da Série B, indexadas ao IPCA. Isso apesar de o volume de negócios desses papéis no secundário ter se reduzido. O giro de títulos passou de 1.303 unidades de janeiro a setembro de 2006 para 1.026 unidades nos nove primeiros meses deste ano. A liquidez caiu e, apesar disso, a dispersão de preços foi reduzida.

Efeito semelhante foi verificado em outros títulos, como por exemplo a NTN-B de vencimento em 2015. Mas, como o governo aumentou a emissão desses papéis, o volume de negócios no secundário cresceu de 463 unidades de janeiro a setembro de 2006 para 3.648 unidades no mesmo período deste ano.

"A divulgação dos preços dá mais segurança nos negócios, pois os participantes passam a ter uma idéia melhor de qual seria o preço justo", comenta Alfredo Moraes, presidente da Andima. Valéria Coelho lembra que nos Estados Unidos os participantes do mercado secundário de títulos públicos são obrigados a divulgar os preços de compra e venda on-line. "Muitos dizem que essa transparência tem um custo alto demais e vão para outros mercados menos transparentes", comenta Valéria Coelho.

Dando continuidade ao seu projeto atual, até o final deste ano a Andima pretende incluir no sistema as informações referentes aos registros nos ambientes eletrônicos da CetipNet e Sisbex. A entidade também está em conversas com o Banco Central com o objetivo de divulgar em tempo real as informações registradas no Selic. No ano que vem, a idéia é criar o sistema de difusão de taxas para o mercado de debêntures. Para Moraes, o aumento no volume de negócios no secundário só vai acontecer, no entanto, quando a tributação deixar de favorecer a manutenção nos papéis de dívida em carteira e não o seu giro diário.