Título: Leilões do BC têm efeito discreto
Autor: Luiz Sérgio Guimarães e Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Finanças, p. C1

Após duas intervenções cambiais do Banco Central, uma no mercado futuro de dólar, outra no à vista, a moeda americana fechou ontem em alta de apenas 0,22%, a R$ 2,6160. Por meio das duas atuações, o BC retirou do sistema quase US$ 700 milhões. Mesmo assim, a reação da moeda foi tímida. O BC deu início aos seus leilões de venda de "swap" cambial reverso, por meio dos quais recebe dólar no mercado futuro e entrega taxa de juros em reais. Vendeu a totalidade dos 8 mil contratos oferecidos e retirou hedge equivalente a US$ 387,8 milhões. A demanda foi 8,6 vezes maior. As instituições estavam interessadas em comprar até 68.720 contratos ou o correspondente a US$ 3,34 bilhões.

Com a troca, o BC receberá a variação cambial mais juro entre 3% e 4,65% dependendo do vencimento (entre julho de 2005 e janeiro de 2008) e os investidores o ganho acumulado pela Selic. Os detentores de hedge cambial oficial, cujo estoque, só em swap, alcança US$ 9,7 bilhões, querem se livrar dele o quanto antes e rumar para aplicações mais atrativas, indexadas à Selic, já que, embora já em nível alto, a taxa básica continuará a subir. No mercado à vista, o BC fez leilão de compra direta de dólares. Adquiriu cerca de US$ 300 milhões e pagou R$ 2,62. Para os analistas, as intervenções do BC não serão eficazes enquanto os juros elevados persistirem atraindo capital estrangeiro. É esse investidor, atrás dos juros altos em real, o principal responsável pela queda do dólar. Mas ele não demanda hedge cambial -assume o risco da moeda em troca dos juros. Os "swaps" do BC, ao reduzir o passivo cambial do governo e o risco-país, podem até atrair mais investidor externo.