Título: Compra de dólares no mercado futuro derruba o cupom cambial
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Finanças, p. C2
Os juros dos investimentos em dólar no mercado interno, o chamado cupom cambial, tiveram um dia de forte queda na Bolsa de Mercadorias & Futuros, por conta da venda de "swaps" reversos pelo Banco Central. O mercado considerou que o efeito principal da compra de dólar no mercado futuro pelo BC será sobre o cupom cambial. Ontem, o cupom medido pelo contrato de "forward rate agreement" (fra) para janeiro de 2006, o mais negociado, foi a 3,53% ao ano, na comparação com os 3,83% ao ano de anteontem. Com o movimento de redução mais acelerada da dívida cambial do governo, o cupom cambial tende a cair mais. Para Alexandre Lintz, economista do BNP Paribas, a decisão do BC de comprar dólar no mercado futuro foi "esperta". Ele considera, no entanto, que o impacto de conter a desvalorização do dólar é só inicial. No médio e longo prazos, com a redução mais acelerada da dívida cambial do governo e melhoria dos fundamentos do país, a tendência para o dólar ainda é de cair. Adauto Lima, economista do WestLB, concorda. Segundo ele, os "swaps" do BC serviram mais como uma sinalização, de que o real abaixo de R$ 2,61 já não é mais confortável. "O investidor estrangeiro vem atrás das taxas de juros em reais e toma o risco de câmbio", disse. Por isso, uma redução no cupom cambial, o principal impacto do "swap" do BC, não vai afastar esse investidor, acredita ele. Esse investidor só deixaria o país, no seu entender, se os juros caíssem, cenário pouco provável diante da inflação persistente no país, ou se a aversão internacional a risco crescesse. Uma piora nos "fundamentos" brasileiros também poderia resultar na saída do investidor externo, diz. O mercado está tão sedento por juros em reais que se dispôs a pagar um cupom cambial considerado alto pelos especialistas para vender dólar ao BC no mercado futuro. A forte demanda pelos contratos de "swap" leiloados poderá estimular a autoridade monetária a ampliar a oferta nos próximos leilões. Para analistas, o corte radical do endividamento em dólar do governo, já equivalente a menos de 10% da dívida pública interna total, se tem o mérito de reduzir a vulnerabilidade externa, pode desencadear um overshooting de desvalorização cambial se ocorrer uma crise internacional que demande proteção contra a variação cambial. Não haveria, nessa hipótese, instrumentos suficientes de hedge cambial. A opção seria a compra de dólar no mercado à vista. Para o consultor Miguel Daoud, da Global Adviser, as atuações do BC no mercado de derivativo de câmbio são mais inteligentes que as intervenções no mercado à vista porque ele não precisa emitir reais para enxugar o excesso de dólares. Em dezembro e janeiro, BC e Tesouro recolheram do mercado cerca de US$ 7 bilhões, dinheiro depois esterilizado por meio da emissão de títulos públicos. "Já que existe uma guerra. O melhor que o BC faz é brigar com as armas do inimigo", compara Daoud. A guerra é no mercado futuro, diz.