Título: Lula atribui recuo na reforma tributária ao Congresso
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2007, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou ontem aos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social - que possui um subgrupo para tratar da reforma tributária - que decidiu adiar o encaminhamento da proposta, bem como da nova política industrial, ao Congresso, para poder "esperar para ver o que acontece com a CPMF". Lula, que aposta em uma solução para a CPMF para os próximos dias, deixou claro que as dificuldades enfrentadas para prorrogar o imposto do cheque, serão cobradas mais à frente, durante a tramitação da reforma. "Não vamos fazer como fizemos em 2003, quando mandamos a reforma tributária para o Congresso, os parlamentares e os governadores não quiseram e a culpa ficou sendo do governo".

Lula defendeu que sejam "dados nomes aos bois". Para ele, é preciso apontar qual o parlamentar, qual o prefeito, qual o governador, qual o ministro, que não quer a reforma tributária. O presidente justificou o adiamento do encaminhamento com a argumentação do senador Francisco Dornelles (PP-RJ). Dornelles acha que misturar temas polêmicos como reforma tributária e CPMF não ajuda o debate político. O ministro da Fazenda havia alegado que o governo estava atendendo, no recuo, a um pedido da líder Ideli Salvatti. "Ele me mostrou que não é bom colocar na mesma sala alunos que estão em séries diferentes", comparou o presidente.

Na noite de segunda, Lula vetou um artigo da MP 387 que permitia o repasse de verbas do PAC durante o período eleitoral. O artigo provocou uma revolta da oposição, especialmente no Senado, que havia derrubado o artigo, recolocado posteriormente pela Câmara. O líder do Democratas no Senado, José Agripino Maia (RN), disse que o governo apenas "quitou um passivo que tinha com a oposição, algo insuficiente para alterar a disputa política em relação à CPMF".

O Planalto continua cabalando votos. Ontem, durante o almoço, o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, estudou os números da CPMF com os colegas Paulo Bernardo (Planejamento), Guido Mantega (Fazenda) e José Gomes Temporão (Saúde). Múcio definiu o embate daqui por diante de "uma disputa de poder, algo que extrapola a questão técnica da CPMF".

Múcio jantou ontem com a bancada do PTB, hoje deve reunir-se, à noite, com a bancada do PMDB no Senado. Não sabe se ouvirá dos senadores uma cobrança efetiva em relação ao Ministério de Minas e Energia. "Se me apresentarem a demanda, repassarei o pacote adiante", prometeu ele. O novo ministro da coordenação reconhece que a CPMF transformou-se em um "depositário de sentimentos políticos, mas sempre acha que o sentimento de responsabilidade vai prevalecer".

Nos próximos doze dias, Múcio vai tentar conversar com todos os senadores, ouvir as demandas de cada um e estudar os pleitos. "Não é hora de faz de conta". O petebista acha difícil, devido a agenda de viagens oficiais, que Lula jante com senadores antes do primeiro turno da votação da CPMF. E classifica a disputa como um clássico, no jargão futebolístico. "Precisamos de 49 votos. Ninguém pode se machucar daqui para frente".