Título: Taxas atraem investidor estrangeiro
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Finanças, p. C2

Os investidores estrangeiros são os principais responsáveis pela desvalorização da moeda americana no Brasil. Eles montam posições vendidas em dólar contra o real em busca das altas taxas de juros no país. Os ganhos chegam a 15% ao ano sem contar a valorização cambial quando o investidor toma recursos em dólar a 3% ao ano e aplica no país a 18% ao ano. É verdade que não é só contra o real que o dólar vem se enfraquecendo. Desde a reeleição do presidente George Bush, no ano passado, o mercado passou a apostar no aumento do déficit em conta corrente americano e na manutenção do déficit fiscal, puxando o valor do dólar para baixo contra todas as moedas, inclusive euro e iene. Mas, no Brasil, o enfraquecimento da moeda forte veio se aliar a um diferencial de juros e a uma maior segurança dos investidores de que o governo brasileiro vai mesmo honrar pagamentos da dívida. Inicialmente, foram os fundos mais especulativos, de "hedge", que se interessaram por tomar dinheiro em dólar e aplicar em reais, assumindo o risco cambial e ganhando com o diferencial nas taxas de juros. Hoje, com a clara capacidade e vontade do governo de pagar sua dívida, os fundos mútuos e os dedicados a mercados emergentes também adotam esse tipo de prática, além da tesouraria de bancos estrangeiros atuando no exterior. Não é à toa que na Bolsa de Mercadorias & Futuros o total de posições compradas líquidas do investidor institucional estrangeiro em juros futuros em reais (dos Depósitos Interfinanceiros) era de 417.027 contratos no dia 1º de fevereiro, o equivalente a R$ 417 bilhões em valores totais ("notional") do contrato. A posição vendida líquida em dólar futuro do investidor estrangeiro institucional era de US$ 2,3 bilhões no mesmo dia. Mas apenas alguns fundos de "hedge" maiores e tesourarias de bancos estrangeiros operam diretamente com juros na Bolsa de Mercadorias & Futuros e aparecem como investidor estrangeiro institucional. Alguns preferem os contratos de câmbio. Mas, por razões operacionais, a maior parte dos fundos mútuos e dedicados a mercados emergentes prefere ficar vendido em dólar contra o real nos contratos futuros no exterior chamados de "NDFs", do inglês "non-deliverable forward". É um mercado de balcão, de contratos fechados entre duas partes. Ao vender o dólar, o investidor fica automaticamente aplicado em juros em reais prefixados e vendido em juros em dólar no mercado interno brasileiro, o cupom cambial. A diferença gigante dessas taxas em um mundo com juros em níveis recordes de baixa é de estimular qualquer investidor. A demanda por "NDF"s em reais cresceu também por causa do reduzido prêmio de risco de conversibilidade -a diferença entre as operações com dólar futuro no exterior e no mercado interno- para baixo de 0,5% ao ano para prazos de um ano. Essa diferença, em momentos de crise de credibilidade, chegou a 15%. Como o mercado de "NDF"s é pouco líquido e neste momento quase todos os fundos estão em uma ponta só, vendidos em dólar contra o real, os bancos estrangeiros que fazem a ponta contrária é que vêm aqui na BM&F zerar suas posições -e aparecem como investidor internacional estrangeiro. Vem também vender dólares ao Banco Central. Outras matrizes de bancos internacionais vêm à BM&F tomar risco ou zerar suas posições em títulos denominados em reais emitidos no exterior, outro instrumento de interesse crescente do investidor externo e também oferecido por bancos nacionais neste momento.