Título: Camargo Corrêa investirá R$ 10 bi
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2007, Empresas, p. B1

A onda de otimismo que toma conta de muitos grupos empresariais brasileiros passa também pelo conglomerado Camargo Corrêa. Com um portfólio diversificado de negócios - de engenharia e construção a bens de consumo, passando por concessões de energia e rodovias e fabricação de cimento e aço -, o grupo acaba de aprovar um pacote de investimentos de R$ 10,3 bilhões para o período 2008-2012, 25% superior aos R$ 8 bilhões aplicados nos últimos sete anos. Desse montante, a área de cimentos ficará com 40% (ver abaixo).

"O Brasil vive um ciclo virtuoso de crescimento, fruto da estabilidade econômica dos últimos anos e da enorme injeção de recursos na economia ", afirma Vitor Hallack, que há pouco mais de um ano assumiu a presidência do conselho de administração da holding Camargo Corrêa S.A. "Se o governo cumprir a parte dele, fazendo todas as reformas represadas, ficará impossível estimar o potencial de crescimento que o país ganhará."

Hallack, que passou um longo período na Embraer, depois de ficar na Vale do Rio Doce até 1993, acaba de aprovar no conselho da Camargo Corrêa o que chama de "ciclo de cinco anos", com uma meta ousada de estar entre os cinco maiores grupos de capital nacional não financeiros. "Somos um grupo com muita vitalidade e vontade de crescer, com a determinação dos acionistas para seguir investindo, comprometido com o país e com a preservação da companhia no futuro".

Com esse programa, o grupo quer triplicar de tamanho dentro de cinco anos. "Essa tarefa não é difícil", afirma, tomando por base o nível de crescimento de 28% na receita bruta previsto para este ano sobre 2006. "Devemos fechar 2007 com R$ 12,7 bilhões de faturamento", informa o executivo, que pôs no planejamento do próximo ano expansão de 5% no PIB brasileiro.

A meta do grupo, que enxerga na área de infra-estrutura muitas oportunidades de negócios, principalmente na operação de concessões - energia, rodovias, portos e aeroportos -, é chegar ao fim de 2012 com receita bruta de R$ 38,6 bilhões, o que significa crescimento anual médio de 23%. "Temos condições de realizar".

O executivo lembra que em 2001, quando o grupo faturou US$ 1,8 bilhão, a Camargo traçou em sua "Visão 2012" o alvo de R$ 17,7 bilhões (US$ 6,5 bilhões na época). Neste ano, pelo atual câmbio, fechará com US$ 7 bilhões. Ele concorda que o dólar atual contribuiu para atingir a meta bem antes.

A aposta do grupo passa por todos os setores em que atua. Hallack diz que a demanda por infra-estrutura é enorme, com o país crescendo e atraindo investimentos e pelo efeito do aumento da renda e da disponibilidade de crédito. "Isso leva ao sonho de ter a casa própria, que exige cimento e outros materiais, e à compra de bens de consumo (calçados, confecções) e duráveis", observa José Edison de Barros Franco, membro do conselho e diretor-superintende da holding.

O setor de engenharia e construção, que terá neste ano 20% da sua receita oriunda de obras no exterior - está em 12 países -, recuperou-se bem, depois de amargar longos anos de vacas magras. "Vai crescer 37% neste ano sobre 2006", informa o executivo. O negócio ficará com aproximadamente 27% do total dos investimentos e com 30% do faturamento previsto para este ano, com aumento de sete pontos percentuais. Havia perdido espaço para calçados e têxteis, que cairá de 27% para 23%.

Uma das grandes apostas do grupo nessa área - e também para a de concessões - é o projeto das hidrelétricas do Rio Madeira (Santo Antônio e Jirau), uma megaobra de pelo menos R$ 20 bilhões. Vai disputar tanto a construção como a concessão, confiante no expertise acumulado em dezenas de usinas construídas e que o governo fixe regras isonômicas no leilão previsto para fim de novembro. Com concessões, onde os principais ativos são a CPFL Energia e a CCR (operação de rodovias), as duas áreas vão responder por metade da receita do grupo em 2007.

O desafio da internacionalização, tomado em 2001, explica Hallack, foi crucial para a expansão da Camargo. "Hoje já estamos em 20 países". A área têxtil ganhou o mundo com a aquisição da espanhola Távex, a Alpargatas chegou aos EUA e tem planos mais ousados para o futuro e cimento montou uma plataforma forte na Argentina. "Para crescer em base sustentável e ir para fora é preciso ter uma base doméstica forte".