Título: Brasil entra no grupo de alto desenvolvimento humano
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2007, Especial, p. A16

Os especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) não receberam a tempo os indicadores do Brasil que mostram melhoria nas taxas de escolaridade no país em 2005 e que apontam um Produto Interno Bruto (PIB) maior que o estimado até o ano passado. Mesmo assim, o relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado ontem, mostra que o país ingressou na lista de nações de "alto desenvolvimento humano", medida da qualidade de vida em todo o mundo. O Brasil está na 70ª posição da lista, a última entre os países "de alto desenvolvimento humano", com IDH de 0,8 - o mínimo para ser considerado dessa categoria.

"Esse resultado é um referencial, mas o país não pode ser complacente", avisa o consultor das Nações Unidas Flávio Comim, especialista em desenvolvimento humano, ao divulgar o relatório. "Nesse momento, a atitude que se deve ter é olhar para os países e pensar por que a Argentina e o Chile estão em posições bem melhores, o que fizeram que o Brasil não fez", afirma o consultor. De 2004 para 2005, melhoraram os indicadores de renda e saúde do país, na comparação com 2004.

O Brasil, contudo, vem conseguindo consistentes aumentos nos indicadores de renda, educação e saúde que compõem o IDH, segundo fizeram questão de notar os especialistas do PNUD. Em alguns, como gasto com educação secundária, supera os outros países da região. O PNUD reconhece que a computação dos dados sobre o PIB e matrículas poderá melhorar a posição do Brasil, como previu ontem em discurso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Estudos acadêmicos mostram que a principal razão da melhoria do IDH não foi o crescimento econômico, mas os programas oficiais de distribuição de renda, atestou o coordenador do relatório de Desenvolvimento Humano, Kevin Watkins.

"A lição interessante do Brasil é que não há risco de sacrificar o crescimento econômico ao se fazer redistribuição e transferência de renda", comentou Watkins, que disse haver "razões para otimismo" em relação às perspectivas de melhoria das condições de vida no Brasil. "Nos últimos quatro ou cinco anos, houve avanço nas políticas públicas em áreas-chave que ofereceram benefícios tangíveis e claros às pessoas mais pobres no Brasil", atestou o especialista. A educação no país, segundo os consultores do PNUD, melhora há cerca de 15 anos.

Segundo a lista divulgada pelo programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Islândia passou a Noruega por uma pequena diferença e passou à condição de país com maior índice de desenvolvimento humano do mundo. Serra Leoa tem a pior posição, em 177º lugar.

O IDH é um índice criado na década de 1990, sob inspiração do Nobel de economia Amartya Senn, para substituir o PIB como medida de desenvolvimento dos países. Quanto mais próximo de 1 o IDH, maior o desenvolvimento humano. A Islândia tem IDH de 0,968, e Serra Leoa, 0,336.

Os novos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) se referem ao ano de 2005, e o Brasil conseguiu aumentar esse indicador em 0,008 ponto, evolução semelhante à obtida, em média, pelos outros países. Chile, Uruguai, Argentina, Trinidad e Tobago, Costa Rica e México são os países latino-americanos que se mantém na frente do Brasil, "há 30 anos", ressalta Comim. "O Brasil está indo para frente, mas os outros também." O país ainda tem fracos indicadores em matéria de mortalidade infantil e materna e desigualdade de renda.

Alguns críticos do IDH o acusam de ser incompleto e não captar variáveis importantes, como a preservação do meio ambiente. "Tentam fazer do IDH um índice completo, ele não é", explica Comim. "É um indicador que enfoca principalmente dois pontos básicos de bem estar: educação e saúde, ter vida longa e saudável e ter conhecimento."