Título: País cresceu porque subverteu regra do FMI, diz Lula
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2007, Especial, p. A16

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem o anúncio de que o Brasil entrou no grupo de países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para comemorar e distribuir farpas aos países desenvolvidos, ao Fundo Monetário Internacional (FMI), e, sem citações diretas, ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Durante cerimônia de lançamento mundial do relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Lula disse que "existem exemplos de países que cresceram, há dez anos, 6%, 7% ao ano e não foi possível construir políticas sociais porque o FMI diz que é preciso, primeiro, cuidar do ajuste e do equilíbrio fiscal".

Lula acredita que o Brasil subverteu essa lógica, ao provar que "é possível combinar distribuição de renda para os mais pobres com crescimento econômico, provar que é possível crescer o mercado interno e o mercado externo". Para ele, o resultado anunciado ontem é sinal de que "o que estamos plantando é muito forte, e vai se consolidar com muita força".

Lula lançou diversos desafios. Ele duvida que exista, "em algum outro lugar do mundo, um programa de transferência de renda com a seriedade do Bolsa-Família". Lembrou que, ao ser lançado em 2003, ainda como Fome Zero, muitos duvidavam da eficiência da iniciativa. "Os apressados queriam que o programa desse certo antes de o programa acontecer, ou seja, não é possível comer uma fruta antes de plantar a árvore".

Entusiasmado com os números do IDH, Lula afirmou que o mundo deve fazer com os pobres, hoje, o que a União Européia fez quando resolveu apostar todas as fichas na derrubada do Muro de Berlim. "O dinheiro que os países ricos da Europa colocaram para ajudar Espanha, Portugal, Grécia, Alemanha Oriental, todos os países do Leste Europeu, nós queremos que o mesmo esforço seja feito para o continente africano e para a América Latina. Aí sim estaremos construindo a possibilidade de os seres humanos dos países pobres sobreviverem com dignidade".

Lula convidou os representantes do PNUD para retornarem ao Brasil em 2012, quando estiver fechando o relatório do biênio 2009/2010. Justificou o convite, afirmando que os números apresentados ontem baseiam-se em dados colhidos até 2005. Chegou a se oferecer como ouvinte, já que seu mandato termina em 31 de dezembro de 2010, para comprovar o avanço do país até o término de sua gestão.

Para o presidente, a tendência é de que o país continue melhorando nas avaliações subseqüentes da ONU. Lula se disse convencido de que o Brasil vai crescer um ponto, por ano, nos relatórios do PNUD de 2006 até 2010.

Aos países desenvolvidos, mais recados explícitos. Lula citou o encontro das Nações Unidas que vai discutir o aquecimento global em Bali, na Indonésia, em meados de dezembro. E avisou que os países ricos têm que pagar para que os países pobres possam preservar suas florestas. Acha que essa é a contrapartida de quem é responsável por 70% da emissão de gases do efeito estufa, a grande responsabilidade de quem não tem uma matriz energética limpa.

A tarde, durante posse dos novos integrantes do Conselho de Segurança Alimentar (Consea), Lula disse que existem governantes que não gostam de participar de conferências, temendo ouvir críticas. "Presidente não gosta de conferência, a não ser antes ou depois, como vida profissional, para ganhar dinheiro fazendo conferência", disse, em crítica indireta ao ex-presidente Fernando Henrique.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na cerimônia do PNUD, disse que o esforço do governo brasileiro é para executar políticas que associam o comprometimento com a proteção à biodiversidade e a inclusão social.