Título: Fundo apoiará empresas brasileiras, diz Mantega
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2007, Finanças, p. C5

Apoiar o processo de expansão internacional das empresas brasileiras será um dos objetivos do novo fundo de investimentos que o governo brasileiro quer criar para aproveitar as condições favoráveis oferecidas pelo recente acúmulo de reservas pelo país, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Uma das idéias em discussão no governo é usar o novo fundo para comprar títulos emitidos por grandes empresas brasileiras que têm feito aquisições no exterior, o que poderia ajudá-las a diminuir os custos que elas têm para tomar recursos no mercado internacional de capitais.

"Vamos fazer aplicações financeiras em títulos diversificados de modo a poder apoiar, por exemplo, a internacionalização de empresas brasileiras, a atuação da Petrobras ou do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)", afirmou Mantega, numa rápida entrevista na sede do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O ministro disse que o fundo ainda está em estudo, mas sugeriu que ele seria constituído com um "pequeno percentual" das reservas brasileiras depois que elas ultrapassarem um determinado patamar, que ele indicou como algo entre US$ 170 bilhões e US$ 180 bilhões. O Brasil tem atualmente US$ 162 bilhões, dinheiro mais do que suficiente para pagar integralmente a dívida externa do governo.

Mantega afirmou que o novo fundo só deverá ser usado para realizar investimentos financeiros e não aplicará recursos diretamente em ações de empresas ou outros ativos. "Nosso objetivo é manter as nossas reservas ou a maior parte delas com bastante liquidez, total segurança, aplicadas só em títulos de primeira linha", disse o ministro.

A China, produtores de petróleo como a Arábia Saudita e os governos de vários outros países emergentes criaram nos últimos anos fundos gigantescos para diversificar a aplicação das suas reservas e obter melhores rendimentos. Conhecidas como fundos de riqueza soberana (SWFs, na sigla em inglês), essas instituições têm hoje ativos avaliados em mais de US$ 2 trilhões.

O avanço desses fundos tem gerado preocupação em países como os Estados Unidos, por causa do interesse exibido por alguns deles em adquirir participações em bancos e empresas dos países ricos. O tema entrou nesta semana na pauta da reunião anual do FMI e dos ministros das Finanças do G-7, o grupo que representa os interesses dos sete países mais avançados.

O diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, disse ontem que os novos fundos precisam ser administrados de maneira transparente se sua intenção for exercer um papel saudável na economia. "Transparência é chave aqui, e começando em casa", afirmou Rato, que entregará o cargo para o francês Dominique Strauss-Khan no fim deste mês.

"As sociedades têm o direito de saber o que acontece com seus fundos e o resto do mundo também, dada a importância crescente que esses atores terão na economia mundial", disse Rato. "É legítimo que países com reservas excedentes busquem melhores retornos para os seus investimentos e muitos desses fundos podem ter um papel estabilizador para os mercados."