Título: Tensão cresce no setor aéreo perto do fim de ano
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2007, Brasil, p. A2

Ruy Baron/Valor Nelson Jobim, ministro da Defesa: plano prevê alta de tarifas nos aeroportos O afastamento de 18 controladores de vôo, na semana passada, voltou a deteriorar o clima entre a categoria e o Comando da Aeronáutica, às vésperas do início da alta temporada. Lideranças dos controladores em Brasília e em São Paulo descartam adotar medidas em represália ao afastamento, mas alertam que é real a possibilidade de novos transtornos no próximo período de férias escolares, incluindo as festas de fim de ano.

Essas lideranças advertem que, recentemente, a falta de controladores em quantidade adequada fez com que mais de 14 operações fossem monitoradas simultaneamente em horários de pico - contrariando normas internacionais de segurança. Tal problema, segundo líderes da categoria ouvidos pelo Valor, teria ocorrido nos Cindactas 1 (Brasília) e 2 (Curitiba), além do controle de área do terminal São Paulo.

Procurada, a FAB negou com veemência a ocorrência desse tipo de problema. O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Cecomsaer) informou que, quando há acúmulo de trabalho para alguns controladores, são abertos novos consoles (telas que permitem o monitoramento das aeronaves) de forma a evitar que mais de 14 operações sejam acompanhadas pelo mesmo controlador. Oficiais do Cecomsaer destacaram ainda que, no Cindacta 2, o número máximo é de 12 operações simultâneas por controlador.

As queixas dos controladores, porém, evidenciam que a crise do setor está longe de um fim. A baixa de 18 militares - 11 em Curitiba e 7 em Brasília - deixa os quadros da FAB ainda mais apertados. O comandante Juniti Saito tem apostado na formação de novos controladores, mas os líderes da categoria apontam um problema prático.

Depois de formados, os novos controladores passam por uma espécie de "estágio" no controle de tráfego. É comum, antes de guiarem sozinhos o movimento das aeronaves, passarem cerca de três anos fazendo o trabalho apenas com o acompanhamento de um controlador mais experiente. "O problema é que tem sido raro dedicar mais de uma hora por dia a esse tipo de acompanhamento", relata um controlador em São Paulo, explicando que isso atrasa a autonomia dos novos colegas.

Segundo uma liderança em Brasília, o clima entre sargentos e oficiais continua muito pesado, mas a estratégia adotada por Saito tem evitado que as reclamações se tornem públicas. Saito adotou uma posição de enfrentamento, após o motim de 30 de março, quando os controladores paralisaram completamente o tráfego aéreo no país. Desde então, o comandante da Aeronáutica decidiu abrir inquéritos contra os amotinados, na Justiça Militar, e tem conseguido evitar novas cenas de caos. Apesar do silêncio, no entanto, o ambiente permanece tenso. Não houve avanços sobre reivindicações como a desmilitarização do setor, nem quanto a gratificações salariais a controladores militares.

Amanhã, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, deverá apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um conjunto de propostas para assegurar a tranqüilidade nos aeroportos durante o fim de ano e forçar a desconcentração de vôos de São Paulo. Entre as medidas está a elevação das tarifas aeroportuárias em até 1.300%.

Para Congonhas, estão previstos valores progressivos das tarifas de pouso, a fim de desestimular atrasos nos vôos. Em Guarulhos, as tarifas de permanência vão aumentar significativamente, podendo tornar inviável a presença de aeronaves de grande porte durante longos períodos. Na prática, isso pode forçar uma alta dos preços aos passageiros ou a transferência de vôos internacionais para aeroportos como o Galeão, no Rio.

Também devem diminuir, de 33 para 30, o número de movimentações por hora (pousos e decolagens) permitidos em Congonhas.