Título: Companhias investem em lodo para gerar energia
Autor: Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2007, Brasil, p. A9

Leo Pinheiro/Valor Wagner Victer, da Cedae: mix de eficiência, custo e benefício ambiental Empresas de saneamento descobriram que estão jogando energia e dinheiro fora ao deixar o resíduo do tratamento de esgoto ser levado para aterros sanitários. Essa percepção tem levado companhias estaduais de água e esgoto a investir em projetos para utilizar o metano emitido pelo resíduo, chamado lodo, como combustível em geradores elétricos. Além da geração de energia, maior custo de operação das companhias do setor, esses empreendimentos têm potencial para obter certificados de crédito de carbono, já que a queima do metano reduz a quantidade de CO2 enviado à atmosfera.

A Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) está prestes a lançar edital de licitação para contratar as empresas que investirão no biodigestor e na usina termelétrica que ficarão na Estação de Tratamento de Esgoto de Barueri. Essa estação tem potencial de fornecimento de biogás para gerar 3 megawatts por segundo, considerando a capacidade de tratamento de 9 metros cúbicos de esgoto por segundo. O biodigestor é necessário para isolar o lodo do oxigênio e assim formar o metano.

"Essa iniciativa faz parte do planejamento de eficiência energética, tem energia sendo desperdiçada", diz Antônio César Costa e Silva, assistente-executivo da diretoria de Tecnologia, Investimento e Meio Ambiente da Sabesp. O investimento é estimado em R$ 9 milhões. A energia gerada deverá ou ser aproveitada na estação ou ser vendida, caso a empresa avalie que ela é mais cara que àquela já contratada no mercado livre.

No Rio de Janeiro, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) avalia em R$ 5 milhões os investimentos do projeto de geração de biogás a partir do esgoto que será tratado na estação Alegria, na capital fluminense. A estação trata 3 m3 de esgoto por segundo, e a estimativa é que a queima do metano poderá gerar 440 megawatts por hora, ou 0,12 megawatt por segundo.

"Nosso interesse é um mix de busca por eficiência energética, energia mais barata e benefício ambiental", diz Wagner Victer, presidente da Cedae. A energia deverá ser utilizada para complementar o consumo da própria estação de tratamento, que hoje gasta cerca de R$ 3 milhões por ano com o insumo. Será um projeto-piloto na maior estação da empresa, e caso seja comprovada a eficácia do uso do biogás, a técnica poderá ser implementada em outras estações, segundo Victer. Eles estão trabalhando a tecnologia junto a uma empresa alemã e com assessoria da Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

No Paraná serão investidos R$ 200 milhões para implantar um protótipo de captação do biogás numa estação de pequeno porte da Companhia de Saneamento do Estado (Sanepar), com capacidade para tratar 40 litros de esgoto por segundo. O projeto faz parte de um programa maior promovido por várias empresas, entre elas a distribuidora de energia Copel, a geradora Itaipu, e a Eletrobrás, com o objetivo de utilizar resíduos orgânicos para geração elétrica. "Ainda não temos o levantamento do potencial de geração, estamos em fase de estudos", diz Maria Arlete Rosa, diretora de Meio Ambiente da Sanepar.

A intenção é colocar a energia gerada na rede de distribuição da Copel, mas segundo o engenheiro de pesquisas da companhia de saneamento, Péricles Weber, outras finalidades também estão sendo pensadas. "Das 18h às 21h pagamos mais caro pela energia. Como o metano pode ser armazenado, é possível que seja mais interessante utilizá-lo para ativar geradores próprios nesse período", diz Weber.

Não há no Brasil projetos desse tipo capacitados para obter certificados de crédito de carbono, apesar de existir empresas privadas da área de alimentação que já dão destino semelhante aos seus dejetos. De acordo com o especialista na área de resíduos da consultoria EcoSecurities, Pablo Fernandes, é preciso ter um grande volume de resíduos sendo tratado para a geração de energia a partir do biogás do esgoto ser viável. "É uma técnica que depende de escala", diz, mesmo considerando os incentivos que podem vir com a venda de créditos de carbono.