Título: Usina térmica a GNL está na mira da americana Duke e da Petrobras
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2007, Empresas, p. B8

O Gás Natural Liqüefeito (GNL), que deverá chegar ao país na primeira metade de 2008, deverá unir a estatal Petrobras e a americana Duke Energy em um empreendimento. O projeto, que começou a ser desenhado em abril deste ano, prevê a construção de uma usina termelétrica no país, que teria no GNL o seu principal combustível.

Ao Valor, Mickey J. Peters, presidente da filial brasileira da Duke Energy, conta que as negociações continuam com a Petrobras. E mesmo não revelando detalhes sobre potência e investimento da futura térmica, o executivo não escondeu que seria natural esperar que o empreendimento fosse instalado nos estados do Ceará ou do Rio de Janeiro. Até porque estes estados receberão as duas unidades de regaseificação do GNL. Juntos, terão capacidade de regaseificar 21 milhões de metros cúbicos por dia e a previsão é que o primeiro terminal entre em operação em 2008. O segundo está previsto para 2009.

Procurada, a Petrobras não falou sobre o assunto até o fechamento desta edição.

Não é a primeira vez que o grupo americano tenta erguer uma térmica a gás natural no Brasil. Peters lembra que a companhia pensou em construir uma unidade em 2003, mas pela falta de matéria-prima resolveu engavetar o projeto por um tempo. "Nós também temos conhecimento sobre como operar térmicas a carvão ou gás natural, porque temos usinas desse tipo em outros lugares", afirma o presidente da Duke no país.

Maior investimento da Duke fora dos Estados Unidos, a companhia mantém no país um conjunto de oito usinas hidrelétricas. Localizadas no Estado de São Paulo, as operações têm uma potência de 2,23 mil megawatts (MW).

Contudo, este novo momento da Duke, que deixou de ser uma companhia à venda para assumir postura de investidora no Brasil, não limita-se as térmicas. Pelo contrário. A multinacional, por exemplo, pediu uma autorização junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para promover um novo estudo sobre o potencial hídrico do rio Ivaí no Estado do Paraná. "O nosso objetivo é prospectarmos Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) por lá (Paraná)", conta Peters

Segundo a Aneel, de fato, a Duke pediu para estudar o potencial deste rio, mas a agência requisitou informações complementares à companhia. De acordo com a assessoria de imprensa da Duke, essa exigência deverá ser entregue à Aneel até o dia 15 de dezembro próximo.

Não é a primeira vez que o rio Ivaí é alvo de estudos, segundo a agência reguladora. Em 1987, a então Divisão de Concessão de Águas e Eletricidade concedeu à paranaense Copel permissão para estudar o potencial hídrico do rio, mas aparentemente nenhum projeto saiu do papel.

Contudo, o presidente da Duke no país explicou que a empresa não avalia apenas PCHs. A idéia é também acompanhar com atenção o desenrolar da construção da segunda usina do Rio Madeira, Jirau, e também do empreendimento de Belo Monte. "É algo que olhamos sim", afirma

Agora, tanto a térmica como a exploração do rio Ivaí precisam drenar investimentos do programa que a multinacional desenhou para a América Latina. A intenção da companhia americana é investir US$ 1 bilhão entre 2008 e 2012 no continente. E estão na disputa pelos recursos as operações da Argentina, Brasil, Peru, Guatemala e El Salvador.

Segundo a Duke, dividiram os recursos quem apresentar os melhores empreendimentos. Portanto, caso o Brasil tenha as melhores propostas poderá inclusive ficar com tudo. E este raciocínio vale para os demais países da região.

A julgar pelos últimos movimentos, a filial brasileira já pode comemorar uma vitória sobre as operações locais. Isso, porque em outubro deste ano a Duke adquiriu dois projetos de PCHs junto à DEB. Essa investida, inclusive, marcou a volta do grupo americano aos investimentos no país, fato que não acontecia desde 1999.

Apesar do valor da transação ter sido mantido em sigilo, fontes de mercado afirmam que somente a cessão do projeto dessas duas PCHs, que juntas vão gerar 32 MW, provavelmente custou aproximadamente R$ 13 milhões. E como a intenção é tirá-las do papel em breve, quem conhece o setor afirma que a Duke precisará desembolsar mais US$ 64 milhões.

Segundo as projeções da multinacional, o objetivo é receber o sinal verde da matriz, para iniciar a construção, até o fim deste ano. Com isso, a empresa conseguiria colocá-las em operação em 2010.