Título: Previsão de quórum baixo deve garantir 2° turno em eleição do PT
Autor: Felício, César ; Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2007, Política, p. A10

Danilo Verpa/Folha Imagem Lula, : "Berzoini assumiu o partido em um momento crítico e demonstrou habilidade. Mas os outros candidatos também são competentes " . O segundo turno nas eleições internas do PT para a presidência da sigla, com a presença do atual presidente, o deputado Ricardo Berzoini (SP), em primeiro lugar, era o cenário que se desenhava ontem à noite, horas depois do encerramento da votação para a escolha da nova direção do partido entre 917.809 filiados à legenda.

Na tarde de ontem, as primeiras avaliações apontavam para um quórum baixo, pouco acima de 300 mil votantes, entre os filiados aptos. Em 2005, foram 315 mil comparecimentos, mas a base de filiados aptos à época era de 826 mil. Um possível fator para a redução do quórum foi a decisão tomada pelo Diretório Nacional no começo de outubro de excluir da votação nacional os filiados em municípios onde não existem diretórios municipais organizados, que correspondem a 7% do colégio eleitoral. O número exato de votantes poderá ser divulgado hoje, após uma reunião da Executiva Nacional para a avaliação do pleito.

Na segunda parcial divulgada ontem, com 33,8 mil votos apurados em 491 municípios, Berzoini obtinha 46,5% dos votos, seguido pelo deputado Jilmar Tatto (SP), com 20,5%; o deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP), com 16,8%; o dirigente Valter Pomar , com 10,1%; o ex-deputado Gilney Viana (MT), com 2,7%, o dirigente Markus Sokol, com 1% e o dirigente José Carlos Miranda, com 0,4%.

Em um sinal de apoio a Berzoini, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu comparecer à votação, algo que não fez no primeiro turno da eleição interna passada. Fez uma declaração a favor do candidato, mas de forma cuidadosa: "O Berzoini assumiu o partido em um momento crítico e demonstrou habilidade. Mas os outros candidatos também têm competência", disse Lula, para quem "o partido muito mais fortalecido dessa eleição do que de qualquer outro momento".

Em seu ministério, há três ministros que apóiam publicamente José Eduardo Martins Cardozo e outros quatro que fizeram campanha aberta por Berzoini. Lula votou no diretório municipal de São Bernardo do Campo, acompanhado da mulher, Marisa Letícia. Antes, fez uma visita de cinco minutos ao irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, que no começo do ano foi acusado de fazer tráfico de influência.

Antes das eleições, a previsão entre os apoiadores das principais candidaturas é que se o quórum de votantes ficasse em torno de 300 mil sufrágios, seria muito provável um segundo turno entre o atual presidente da sigla, o deputado Ricardo Berzoini e os deputados Jilmar Tatto ou José Eduardo Martins Cardozo .

Caso houvesse um quórum alto, que ultrapasse 350 mil votos, por exemplo, a tendência seria de vitória de Berzoini ainda no primeiro turno. Se não houver maioria absoluta, como tudo indicava na noite de ontem, haverá um segundo turno em 16 de dezembro.

Os demais candidatos petistas, como o dirigente paulista Valter Pomar, o ex-deputado Gilney Viana , e os militantes Markus Sokol (SP) e José Carlos Miranda (SP), todos da ala esquerda da sigla, são vistos como sem chances de chegarem a um segundo turno. Somente entre quarta-feira e sexta-feira deverá ser conhecido o resultado final da eleição petista.

Hoje deve acontecer uma reunião da Executiva Nacional da sigla na sede do partido em São Paulo para uma primeira avaliação do quórum do pleito. A apuração no PT será extremamente lenta por ser manual e pelo fato de cada militante votar oito vezes: quatro para a escolha dos dirigentes e quatro para a escolha das chapas.

Ontem, mais uma vez Cardozo negou-se a falar em uma estratégia para o segundo turno. Afirmou que seus apoiadores se reunirão hoje para avaliar o quadro. "Não temos posição fechada nem tendência para apoio", afirmou. Já Tatto reiterou que apoiará o adversário, caso este vá para o segundo turno contra Berzoini.

Mas fez uma ressalva: afirmou que falava por apenas uma das três forças que o apóiam, a corrente "PT de Lutas e Massas", como força apenas em São Paulo. O Movimento PT, do presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (SP) e o "Novos Rumos", tendência que reúne apoiadores da ministra do Turismo, Marta Suplicy, ainda não se manifestaram.

Provável quarto colocado na eleição, Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, voltou a afirmar ontem que poderá apoiar tanto Cardozo quanto Tatto. " Nosso grande desafio é unir as forças que se opõem a Berzoini e impor a ele uma derrota", afirmou, ao votar.

A única escolha estadual que deverá influir em um eventual segundo turno em nível nacional é a de São Paulo, onde Berzoini apoiou oficialmente o deputado estadual Zico Prado , mas diversos integrantes do ex-Campo Majoritário, hoje "Construindo um Novo Brasil" apoiaram o prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva.

Entre eles, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que teve seus direitos políticos cassados em 2005, sob acusação de ter comandado o esquema do mensalão, e o deputado federal Antonio Palocci. Edinho também tem o apoio oficial de Jilmar Tatto. Caso haja segundo turno em São Paulo, provavelmente o prefeito de Araraquara se alinharia com a oposição interna.

O melhor cenário para Berzoini seria a vitória de Zico Prado ou Edinho Silva ainda no primeiro turno. Zico Prado é um apoio certo. Se o vitorioso for o prefeito de Araraquara, em um segundo turno entre Berzoini e Cardozo, Edinho dificilmente deixaria de apoiar o primeiro.

A possibilidade do PT lançar-se a uma campanha pelo terceiro mandato só existiu ontem na forma de uma ameaça velada feita por Dirceu. "O terceiro mandato é legal e constitucional, exatamente da mesma forma como foi a emenda da reeleição. Mas o PT não quer isso", disse. A proposta foi classificada como "absurda" pelo próprio presidente e "absolutamente artificial" e "descartada" por Ricardo Berzoini.

Os possíveis presidenciáveis petistas comportaram-se de modo discreto. Em Porto Alegre, a ministra da Casa Civil Dilma Rousseff não compareceu a um café da manhã com lideranças locais do partido e não divulgou o local e o horário em que votaria. Em São Paulo, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, recusou-se a revelar em quem votou, ainda que todo o seu grupo político apoiou Jilmar Tatto durante a campanha interna petista.(com agências noticiosas, colaborou Sérgio Bueno, de Porto Alegre).