Título: Lloyd's critica regras da Susep
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2007, Finanças, p. C14

Leo Pinheiro / Valor Peter Levene, presidente do Lloyd's of London: "Se me perguntassem quando abriríamos o escritório no Brasil há dois dias atrás, diria que seria em algumas semanas. Agora, não sabemos mais" A viagem de Lorde Peter Levene, presidente do Lloyd's of London, maior mercado de seguros e resseguros do mundo, ao Brasil era para tratar de negócios e da abertura de um escritório da empresa britânica no Rio ou São Paulo. Mas as regras propostas para o mercado de resseguros aberto, colocadas anteontem em audiência pública pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), foram um balde de água fria nos planos do Lloyd's.

"Se me perguntassem quando abriríamos o escritório no Brasil há dois dias atrás, diria que seria em algumas semanas. Agora, não sabemos mais", afirmou Levene, destacando que os planos podem ser adiados.

Em uma leitura preliminar das regras, o executivo do Lloyds não gostou da exigência de garantias depositadas em conta bancária no Brasil para operar no mercado local. O valor mínimo é de US$ 5 milhões para o ressegurador admitido (com sede no exterior, mas com escritório de representação aqui). Como no Lloyds tudo é gigantesco, este número pode ser muito maior, de centenas de dólares, afirma Levene. São 67 seguradoras que operam no sindicato londrino, com capacidade de subscrição superior a US$ 30 bilhões. "Nossa primeira leitura das regras não foi muito positiva", diz o Lorde.

A avaliação é que o depósito destas garantias aqui, encareceria as operações. "Ao invés dos preços caírem (com a abertura do mercado de resseguro), vão subir", destaca. Segundo ele, o Lloyd's sempre honrou os sinistros. No furação Katrina, em 2005, desembolsou "imediatamente" US$ 8 bilhões.

O Lloyds, por ser um sindicato de seguradoras, tem tratamento diferenciado em praticamente todos os países. Mesmo nas regras da Susep recebeu tratamento a parte. Segundo Levene, em nenhum lugar do mundo se exige o depósito destas garantias. "O Lloyd's é único. Não é uma companhia e esperamos que as autoridades regulatórias reconheçam isso", disse. Segundo ele, o Lloyd's vai participar da audiência pública das novas regras para o resseguro, e fazer sugestões.

O Lloyd's vêm há tempos mostrando interesse em operar no Brasil. No início do ano, Levene encontrou o presidente Lula no fórum de Davos, na Suíça. Hoje, os negócios que tem com o IRB Brasil Re, único ressegurador brasileiro, somam US$ 77 milhões, principalmente na área de "property" (que inclui grandes plantas industriais). "O Brasil é um mercado crítico para a gente. A regulação precisa ser compatível com o resto do mundo", diz.

No Brasil, Levene se encontrou anteontem com o ministro da Economia, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Além deles, Levene falou com o governador do Rio, Sergio Cabral, e com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. As duas cidades querem ser o pólo do mercado de resseguros brasileiro.

"A abertura do mercado de resseguros traz oportunidades sem precedentes para o Brasil", disse Levene ontem durante almoço na Câmara Britânica que reuniu executivos de várias seguradoras. O mercado de resseguros pode dobrar de tamanho em dois anos.

Além do Brasil, o Lloyds está de olho em outros BRICs (a sigla para os emergentes Brasil, Rússia, Índia e China). Este ano, começou a operar na China.