Título: Venezuela se mostra mais dividida do que nunca sobre Chávez
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2007, Internacional, p. A13

AP O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vota no referendo sobre a reforma constitucional, realizado ontem A Venezuela viveu uma noite de suspense, com informações contraditórias sobre o desfecho do referendo da reforma constitucional. Fontes do governo e da oposição diziam ter vencido, com base em pesquisas de boca-de-urna não divulgadas. A legislação venezuelana proíbe a divulgação. Tudo indica, porém, que o resultado mostrará um país mais dividido do que nunca em relação a Hugo Chávez.

A reforma, elaborada por partidários do presidente Chávez, dá a ele o direito de ser reeleito indefinidamente e centraliza poderes no Executivo. A nova Constituição é o mais importante passo de Chávez rumo ao que ele chama de "socialismo do Século XXI". Críticos do presidente dizem que o país caminha para uma ditadura.

Segundo duas fontes não identificadas do governo, citadas por agências de notícias internacionais, três pesquisas de boca-de-urna teriam mostrado vitória do "sim" à reforma, por uma vantagem de seis a oito pontos percentuais. Não foi divulgado que institutos fizeram essas pesquisas nem quais eram as margem de erro.

Já uma fonte oposicionista, também não identificada, disse que pesquisas da oposição teriam mostrado vitória do "sim".

Outra fonte oposicionista, porém, deu uma versão diferente. O prefeito de Caracas, Leopoldo Lopez, um dos líderes da coalizão de oposição, afirmou que havia uma situação de empate técnico nas pesquisas de boca-de-urna.

Ainda segundo informações não oficiais, o comparecimento às urnas foi baixo, de cerca de 50%. Isso poderia prejudicar Chávez, pois a oposição estava mais mobilizada nesta votação e tinha a expectativa de vitória, o que deve ter estimulado os oposicionistas a votar. Porém, a oposição na Venezuela também estava dividida, e parte dela defendia a abstenção, como forma de protesto.

Se confirmada a vitória do "sim", segundo as pesquisas citadas, essa seria a vantagem mais apertada obtida por Chávez. Ela já disputou - e ganhou - dez votações nacionais, entre eleições e referendos. Até agora, a menor margem de vitória havia sido de nove pontos percentuais. Se perder, Chávez terá sofrido sua primeira derrota, com conseqüências imprevisíveis para a estabilidade política do país.

Os dois lados prometeram acatar o resultado das urnas. "Tão logo o CNE [Conselho Nacional Eleitoral] emita os resultados, vamos aceitá-los, sejam quais forem", disse Chávez ontem. Mas certamente haverá questionamentos se a votação for apertada.

Os eleitores votavam sim ou não para dois blocos de alterações na Constituição. Ao todo, a reforma prevê mudanças em 69 dos 350 artigos da Constituição, no maior conjunto de mudanças econômicas, político-administrativas e institucionais da história do país.

Para favorecer o voto no sim, Chávez incluiu na reforma a ampliação de benefícios sociais, como o aumento da aposentadoria, e a redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais.

Não houve incidentes graves durante a votação, que foi em parte eletrônico, em parte manual. A expectativa é que o resultado fosse divulgado durante a noite.