Título: Montadoras temem plano do país para reduzir importação
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2007, Brasil, p. A2

Responsável por 35% do total de exportações brasileiras para a Venezuela, a indústria automotiva está mais preocupada com as restrições que o governo daquele país prepara para limitar a entrada de veículos e autopeças estrangeiros do que com a posição da Fiesp contrária à presença venezuelana no Mercosul. Informações preliminares indicam que o pacote que está sendo elaborado exigirá que os carros vendidos no país tenham mais peças locais e que sejam movidos a gás. O governo venezuelano também teria acenado com outra determinação inédita em todo o mundo: o encolhimento do mercado de veículos local, que está em pleno crescimento.

A indústria automobilística não se opõe à entrada da Venezuela no Mercosul. O presidente Anfavea, associação que reúne as montadoras, Jackson Schneider, faz, contudo, a ressalva de que a entidade considera a participação dos venezuelanos positiva, desde que o país acompanhe as regras do bloco.

A participação venezuelana nas exportações de veículos e peças do Brasil é expressiva. De janeiro a setembro, os embarques para o mercado venezuelano somaram US$ 1,3 bilhão. O volume acumulado nos nove meses ultrapassou a soma de todo o ano passado (US$ 1,14 bilhão). A quantidade de veículos enviados está até agora em 60 mil unidades. Em 2006, foram enviados 44 mil veículos, mais as peças.

Schneider diz que a expectativa da indústria é obter este ano receita de US$ 1,5 bilhão com exportações para a Venezuela. Segundo o dirigente, o setor precisa compreender melhor a intenção do governo daquele país de conter a entrada de veículos. "Até agora só foi anunciado o conceito."

O abastecimento de veículos no mercado venezuelano é quase todo feito pelo Brasil. Grandes montadoras, como GM, Ford e Mercedes-Benz, têm linhas de montagem na Venezuela que funcionam com peças enviadas pelo Brasil. As montadoras que não têm fábricas, como a Fiat, exportam carros completos. A participação da indústria venezuelana na montagem dos veículos no país se limita ao fornecimento de componentes mais simples, como pneus e vidros.

Dona de 16% do mercado venezuelano, a Ford também se mostra preocupada com a intenção do governo de limitar importações. O presidente da Ford Brasil, Marcos de Oliveira, diz que a empresa ainda tenta entender como seria o plano. Nos bastidores, representantes das montadoras começam a se movimentar em busca de apoio do governo brasileiro para evitar redução do fluxo das exportações.

A possibilidade de limitação à entrada de veículos e peças brasileiros se sobrepõe às discussões sobre o Mercosul. Além disso, o peso do mercado venezuelano nas vendas da indústria brasileira supera quaisquer posições dos EUA e Europa, onde estão as matrizes das montadoras, em relação à questão política com a Venezuela.