Título: Lula deve ir à Bolívia, apesar dos distúrbios
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2007, Brasil, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai manter a viagem à Bolívia, marcada para o dia 12 de dezembro, apesar dos confrontos entre governo e oposição em Sucre, que deixaram três mortos no fim de semana. A declaração foi dada ontem, no Itamaraty, após almoço em homenagem ao grão-duque Henri de Luxemburgo. "A agenda da Bolívia continua de pé", assegurou o presidente.

A visita de Lula à Bolívia foi acertada por telefone com o presidente boliviano, Evo Morales, na semana seguinte à crise de abastecimento de gás no Rio e em São Paulo. Ontem, o presidente afirmou que ainda não havia entrado em contato telefônico com seu vizinho boliviano desde que os confrontos se iniciaram em território boliviano.

Na agenda da viagem, o principal item é a retomada dos investimentos da Petrobras na Bolívia. O presidente da estatal, Sérgio Gabrielli, já se reuniu com o governo boliviano e a possibilidade de o Brasil voltar a comprar gás boliviano é concreta. A parceria havia sido rompido após os decretos de nacionalização editados por Evo Morales em 1º de maio de 2006.

Mas não apenas a questão do gás fará parte do encontro bilateral entre os dois presidentes. Serão assinados acordos de apoio técnico na área de reforma agrária, exportação de tratores e assinados de contratos na área de infra-estrutura. Não está descartada um encontro, em La Paz, entre Lula, Evo e a presidente do Chile, Michelle Bachelet, para negociar uma saída da Bolívia para o mar.

Mas a Bolívia vive uma grande crise política, duas semanas antes da visita do presidente brasileira. O estopim aconteceu no fim de semana, quando três pessoas morreram em confrontos com a polícia, em Sucre. A oposição boliviana não aceita a aprovação, pela Assembléia Nacional Constituinte, de uma nova carta magna para o país, por considerá-la ilegal.

Ontem, seis dos nove Estados do país, incluindo o pólo econômico de Santa Cruz, pararam por 24 horas, sendo a terceira greve "cívica do ano". Para tentar contornar a crise, o Congresso da Bolívia aprovou a mudança da Assembléia de Sucre, numa jogada dos parlamentares governistas para tentar concluir a votação da constituição.

A oposição reclama que não participou dos debates para a elaboração de uma nova constituinte boliviana e que ela foi aprovada dentro de um quartel. Na madrugada de quarta-feira, os governistas bolivianos aproveitaram a distração dos oposicionistas para fazer com que o Congresso acatasse a mudança informal da Assembléia Constituinte.

Apesar de Sucre continuar sendo sede da Assembléia, a lei dá ao seu presidente poderes para convocar sessões em qualquer lugar do território nacional, desde que essa alteração seja aprovada por Morales. O prazo final para aprovação da nova Carta é 14 de dezembro. Antes da votação do fim de semana - que resultou na morte de três pessoas - a Assembléia Constituinte não realizava reuniões regulares havia três meses. (Com agências noticiosas).