Título: Missões sempre misturam política e novos negócios
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2007, Especial, p. A18

Ricardo Stuckert/PR No Congo, onde o assunto foi democracia, Lula e o presidente Denis Sassou Nguesso assistem uma dança típica As missões diplomáticas brasileiras, integradas por empresários nacionais em busca de novos acordos comerciais, têm como objetivo mostrar aos potenciais compradores que o Brasil é muito mais do que os cinco "s" que caracterizam o país na visão internacional: sun (sol), sand (areia), samba (samba), soccer (futebol) e sex (sexo). A piada, sempre presente em conversas de diplomatas envolvidos no comércio exterior, mostra quanto o país está longe de ser uma força comercial internacional.

As viagens internacionais do presidente Lula, além do caráter político e estratégico, representam também oportunidades de novos negócios para o país. Em uma parceria firmada entre o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio - dobradinha que, em certos momentos, gera atritos de parte a parte - é comum que sejam organizadas listas de empresários convidados a compor a comitiva presidencial.

Executivos de grandes empresas, como Petrobras e Embraer, são constantemente chamados. Os demais integrantes são escolhidos pontualmente, com base nas características do país a ser visitado e nas demandas que poderão ser encontradas em território estrangeiro. Se em determinado país a ser visitado pelo presidente Lula houver déficit de copos plásticos, pro exemplo, será esse tipo de empresário que será convidado para compor a comitiva presidencial.

Além de convites específicos, outra oportunidade para participar dessas viagens é uma inscrição na página do Itamaraty, através do endereço www.btn.gov.br (Brazil Trade Net), ligado ao Departamento de Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores. Nos primeiros anos do governo Lula, era comum que empresários ligassem para o Itamaraty pedindo "carona no avião presidencial". Hoje, com a organização das informações na página oficial do ministério, problemas como esse foram praticamente extintos.

Como medir se as viagens presidenciais renderam bons frutos para os empresários? Os diplomatas precisam, para isso, fazer uma análise comparativa da balança comercial com os países visitados, pois os empresários raramente contam os acordos firmados em solo estrangeiro. Nas primeiras viagens, o Itamaraty chegou a encaminhar questionários de avaliação, mas as respostas às questões eram evasivas ou inexistentes . "Só descobrimos se a viagem teve sucesso se, no ano seguinte, a balança comercial de determinado produto tiver aumentado. Se verificarmos que na viagem estava presente um empresário do setor, podemos inferir que tudo deu certo", confirmou um diplomata.

Pelos dados obtidos na balança comercial, os êxitos têm sido maiores que os insucessos. Dois fatores são responsáveis por isso, avalia o Itamaraty. O primeiro é que a diplomacia brasileira toma cuidado para não levar aventureiros nas viagens. Além disso, Lula sempre participa dos encontros empresariais - não importa se abrindo ou fechando as reuniões

Tantas viagens acabam por gerar histórias curiosas. Durante visita ao Oriente Médio, um executivo da Embraer sentou-se ao lado de um empresário do setor de biodiesel. Antes que o avião aterrissasse do outro lado do mundo, já havia sido fechada a compra de dois aviões. Em outro momento, durante viagem à África, um constrangimento. Um empresário local demonstrou interesse em importar caprinos brasileiros, mas na comitiva não havia ninguém que representasse o setor. Os diplomatas começaram a fazer consultas e um dos convidados lembrou-se de um amigo pessoal e pecuarista pernambucano. O negócio foi fechado com uma ligação DDI. (PTL)