Título: Ásia ganha espaço na agenda de Lula
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2007, Especial, p. A18

Ricardo Stuckert/PR Em Copenhague, na Dinamarca, Lula da Silva é recebido pela rainha Margareth II, em viagem onde defendeu o etanol O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fará, em 2008, mais uma viagem à África, manterá sua rotina de viagens aos países latino-americanos e inaugurará um novo roteiro: o Sudeste Asiático, composto por Malásia, Tailândia, Vietnã, Filipinas e Indonésia. Esse conjunto de países foi, ao longo dos últimos cinco anos, esquecido pela diplomacia brasileira. O chanceler Celso Amorim já avisou aos seus assessores que "2008 será o ano para dar atenção a essa região".

Para o governo brasileiro, dois fatores devem ajudar naturalmente a incrementar as relações com os países asiáticos em 2008: as Olimpíadas de Pequim, em agosto, e as comemorações do centenário de imigração dos japoneses para o Brasil. Em função disso, a estratégia é aproximar-se de outras nações da região, emergentes, com as quais o Brasil não mantém vínculos comerciais e políticos consolidados.

Com o aumento do interesse mundial em relação ao biocombustível - outra bandeira explícita de Lula em suas viagens internacionais - o Itamaraty espera também aumentar o intercâmbio com países da América Central e Caribe, como El Salvador e Jamaica: as viagens para esses países vão se repetir.

O ano que vem será a reafirmação da política adotada desde janeiro de 2003: privilegiar a relação Sul-Sul e com os países emergentes. Essa estratégia resultou em viagens constantes ao continente africano, ao Oriente Médio e na criação de alguns grupos de cooperação entre países, como o Ibas, reunindo Brasil, Índia e África do Sul. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, tem afinidade total com o presidente Lula na hora de definir os rumos da política externa e a agenda de viagens internacionais, dizem interlocutores de ambos.

A possível entrada da Venezuela no Mercosul seria outro elemento no cenário da diplomacia brasileira a determinar as viagens do presidente. Assunto que provoca discussões acaloradas no Congresso e no governo, o aval para a entrada do país governado por Hugo Chávez no bloco comercial precisa ser dado pelo Congresso. Dentro do Itamaraty, no entanto, a aproximação com a Venezuela é vista com total naturalidade e há grande confiança em que será aprovada a adesão do país ao Mercosul. A avaliação é que os arroubos chavistas poderão ficar menos intensos se a Venezuela for submetida às regras gerais de livre comércio da região.

Um experimentado diplomata brasileiro resume da seguinte forma a visão do governo brasileiro: "A Venezuela vai entrar no Mercosul, não o Mercosul na Venezuela". Assessores ouvidos pelo Valor recordam-se da polêmica recente envolvendo Brasil, Venezuela e Estados Unidos. Chávez queria comprar aviões da Embraer, mas os americanos vetaram. O presidente da Venezuela foi à Rússia e comprou o produto que procurava. "O veto americano só serviu para diminuir nossa influência na Venezuela", lamentou um diplomata, optando pelo anonimato. Com esses planos, as viagens do presidente brasileiro para o país vizinho estão também na agenda de 2008.

Os números da balança comercial brasileira mostram que, nos últimos cinco anos, as exportações brasileiras para a Venezuela cresceram 338%. Assessores do Itamaraty lembram que o comércio da Venezuela com os Estados Unidos subiu 104% nos último anos, pulando de US$ 4,4 bilhões para US$ 9 bilhões. No caso brasileiro, o aumento das exportações para o país de Hugo Chávez foi de US$ 748 milhões para US$ 3,5 bilhões.

Debruçados sobre essa planilha, gestores da política de comércio exterior afirmam que os americanos continuam sendo o principal mercado dos produtos venezuelanos, mas que o Brasil teve um aumento extraordinário na parceria com o vizinho.

A predominância dos esforços da diplomacia brasileira em relação à América do Sul foram manifestadas por Amorim no discurso de posse, em 2003, e ao longo de toda a sua gestão. "A América do Sul será a nossa prioridade, o relacionamento com a Argentina é o pilar da construção do Mercosul, cuja vitalidade e dinamismo cuidaremos de resgatar", prometeu ele, em janeiro de 2003. "Eu me interesso pela América do Sul, porque moro aqui. Se morasse em um país europeu, provavelmente me interessaria pela minha vizinhança imediata." Ao longo desse tempo, o comércio do Brasil com os vizinhos aumentou três vezes. Para facilitar as parcerias, muitas vezes o governo brasileiro faz acordos bilaterais que, em certos pontos, parecem poucos favoráveis aos interesses nacionais.

Mas os diplomatas têm justificativa para essa estratégia. "São acordos de complementaridade econômica. É fundamental lembrarmos de uma coisa: o que está em jogo não é apenas a questão comercial, mas o reforço aos elos geopolíticos de vizinhança."

No ano que vem, a América do Sul vai continuar a representar um campo enorme de investimentos para as empresas brasileiras. Com a campanha do presidente Lula de integrar a região com obras de infra-estrutura, que incluem rodovias, ferrovias e gasodutos, é cada vez maior o número de construtoras e empreiteiras participando de licitações nos diversos países sul-americanos. "Existe um princípio básico na economia: riqueza gera riqueza. Se você exporta mais para um país, esse país vai ter mais condições de importar de nós", acredita um graduado funcionário do Itamaraty.