Título: Juro à pessoa física é o menor desde o Real
Autor: Izaguirre , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2007, Finanças, p. C5

Os juros do sistema financeiro às pessoas físicas caíram ao seu mais baixo nível desde que o Real passou a ser a moeda brasileira, em julho de 1994. Medida pelo Banco Central apenas em relação às aplicações de recursos livres dos bancos, a taxa média recuou meio ponto percentual em relação a setembro, ficando em 45,8% ao ano em outubro passado.

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, destacou que houve queda da taxa ao tomador final apesar da interrupção do processo redução da Taxa Selic, o juro básico da economia, pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Influenciada pela Selic, a taxa de captação dos bancos não caiu. O recuo do juro à pessoa física, portanto, foi todo em função do spread bancário (diferença entre taxa de aplicação e de captação) que saiu de 35% para 34,5% ao ano, na comparação com setembro, também o menor nível da série pesquisada pelo BC, desde julho de 1994.

Em dez meses, o spread praticado para esse segmento da clientela caiu 5,1 pontos percentuais. Associado ao menor custo de captação, isso permitiu aos bancos reduzir a taxa final, que era de 52,1% ao ano em dezembro de 2006, em 6,3 pontos percentuais ao longo de 2007. Os números preliminares de novembro indicam sustentação do processo de queda, o que, na avaliação de Altamir Lopes, seria um estímulo às compras de Natal. Até dia 9 do mês em curso, a taxa média observada pelo Banco Central para operações com pessoas físicas foi de 45,3% ao ano. O spread médio nesse segmento também foi menor do que em outubro, ficando em 33,8%.

Lopes destacou que, na análise por modalidade, apenas duas não apresentaram, em outubro, a taxa média mais baixa da série histórica para pessoas físicas: a do cheque especial e a de financiamento de outros bens que não veículos automotores. Ainda caríssimo, o cheque especial custou em média 139,1% ao ano no mês passado, ainda acima da taxa de dezembro de 1999, 138,8% anuais, até hoje a menor da série pesquisada. A taxa média para aquisição de bens, exceto veículos, ficou em 54,7%. Nessa modalidade, a menor taxa já registrada pela pesquisa foi a de agosto de 2005 (53,7%). A taxa para financiamento de veículos em outubro, por sua vez, ficou em média em 28,4%, nesse caso, a menor desde julho de 1994.

Para as empresas, a pesquisa mensal do BC acusou elevação da taxa média de juros das operações com recursos livres dos bancos, de 23,1% para 23,4% na comparação de outubro com setembro. Altamir explicou que isso se deveu, no entanto, muito mais ao critério de cálculo empregado pelo BC, que, por causa dos financiamentos originados em recursos externos, considera a expectativa de variação cambial até o vencimento das operações. Como o dólar caiu em outubro, a expectativa de desvalorização do real para frente ao dólar aumentou, afetando a taxa média apurada para pessoas jurídicas. Segundo Lopes, por causa das oscilações do câmbio, que não necessariamente interferem nas taxas de juros propriamente ditas, o BC já pensa inclusive em estudar uma mudança o seu critério de cálculo da média. "Variação cambial é encargo, não juro", justifica ele. Mas por enquanto nada está decidido.

Em outubro, porém, a metodologia esse não foi o único motivo da elevação da taxa média para as empresas. Tanto que a taxa das operações prefixadas, ou seja, não atreladas ao câmbio, também subiu ligeiramente, de 33,4% para 33,5% ao ano. Apesar de terem subido em outubro, os juros do crédito bancário para o segmento de pessoas jurídicas ainda se situaram abaixo do patamar de dezembro de 2006, quando a média foi de 26,2% ao ano.

Altamir Lopes atribuiu à redução paulatina e persistente dos juros o aumento do volume de crédito no Brasil. A maior elasticidade dos prazos, também ajuda. Para as empresas, o prazo médio está em 270 dias, o maior da série. Para as pessoas jurídicas, o prazo médio verificado em outubro foi de 419 dias, praticamente o mesmo de setembro (420 dias).