Título: Multimercados em transição
Autor: Monteiro , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2007, EU & Investimento, p. D1

Com o aumento da volatilidade nos últimos meses e um cenário mais incerto para a economia global e os ativos, os fundos multimercados vivem um momento de transição. Apesar de as carteiras estarem debaixo de um mesmo guarda-chuva, os estilos de gestão são bem diferentes. Enquanto o mercado estava numa fase boa e com oscilações baixas, a maioria dos gestores apresentava ganhos. Agora, sem um quadro definido e muitos sobe-e-desces, o investidor começa a enxergar quem está conseguindo se sair bem. Estudo da Arsenal Investimentos, escritório de aconselhamento financeiro, mostra que a volatilidade das cotas cresceu de agosto para cá, quando começou a crise do setor das hipotecas de alto risco americanas ("subprime"). O levantamento revela também que a divergência entre os desempenhos na categoria está maior.

Os multimercados que adotam a estratégia de arbitragem, por exemplo, registram o melhor retorno médio no acumulado dos últimos três meses até outubro, mas, no ano, não são os mais rentáveis. Esses fundos buscam ganhar com a diferença de preços entre ativos em diversos mercados como juros, câmbio e bolsa. O índice que mede o desempenho das carteiras que seguem esse estilo de gestão rende em média 11,60% no ano até outubro - atrás, no entanto, de outras categorias. Já no trimestre encerrado em outubro, a categoria é a mais rentável, com retorno acumulado de 3,50%.

Até agosto, os gestores estavam acostumados a comprar o "kit Brasil", ou seja, apostar na queda do juro, alta da bolsa e valorização do real, lembra Gustavo Coelho, responsável pela área de alocação da Arsenal. "Agora, o jogo é diferente, pois o cenário de queda do juro não está tão bem definido como antes", afirma. "O ganho com a bolsa depende muito mais da boa seleção de papéis e, além disso, o gestor terá de observar outras moedas, não só o dólar, para ser bem-sucedido com câmbio."

No primeiro semestre, o que se via era que as oscilações das cotas de todos os tipos de multimercados ficavam mais ou menos no mesmo nível. A partir de agosto, no entanto, houve um forte aumento da volatilidade e esse quadro mudou. "Com o cenário indefinido e maior volatilidade fica mais difícil para o gestor decidir em que aplicar", diz Coelho. O que se percebe nesses últimos três meses é que os fundos que adotam a estratégia de arbitragem e têm menor correlação com os índices de mercado estão se saindo melhor.

É cedo para dizer, entretanto, quais serão os vencedores ou perdedores diante desse novo cenário. A maior diferenciação dos estilos de gestão dos multimercados veio para ficar, diz Alexandre Espírito Santo, sócio da Plenus Gestão de Recursos e chefe do departamento de Economia e Finanças da ESPM-RJ. "A vida está mais complicada e será preciso olhar os ativos cada vez mais com lupa, em vez do piloto automático de antes." Para ele, o setor de fundos no Brasil tende a ficar mais sofisticado.

A maior parte dos multimercados adota estratégia macro de gestão, procurando ganhar com as tendências dos ativos, seja de alta ou de baixa. Essa é uma característica que tem tudo para mudar. No ano, essa categoria é a mais rentável, com retorno médio de 14,06% até outubro, beneficiada pela boa performance do mercado no primeiro semestre. Agora, nos últimos meses, a rentabilidade média limita-se a 3,32%. A volatilidade da categoria, no entanto, mais do que dobrou, saltando de 1,51% em janeiro para 3,92% em outubro.

Já os investidores que aplicam em multimercados do tipo "equity hedge" viram seus retornos mensais minguarem ou até tiveram perdas nos últimos três meses. Esse fundos tentam ganhar com arbitragem utilizando ações e seus derivativos como principal estratégia. São os fundos long/short de ações, que procuram ganhos somente com ações e seus derivativos. No ano, até outubro, essas carteiras apresentam ganho médio de 12,44% - o maior entre todas as categorias. Nos últimos três meses, no entanto, a rentabilidade média é de 1%. A oscilação das cotas também subiu: passou de 1,99% em janeiro para 3,65% em outubro.

Nos últimos anos, o mercado financeiro esteve relativamente fácil para os gestores, com poucos momentos de queda e de forte volatilidade, diz Francisco Costa, sócio da Personal Investimentos. Os prêmios se reduziram e a maior especialização do setor é uma via inexorável, avalia. "O crescimento dos multimercados veio para ficar, mas muito dos orfãos da renda fixa ainda não medem corretamente os riscos da categoria", adverte. Para ele, olhar o resultado de uma carteira desse tipo num prazo de apenas seis meses é observar o desempenho num intervalo muito curto e o ideal é que o aplicador avalie períodos mais longos.

As cotas dos fundos trading também apresentaram um aumento de volatilidade. Fazem parte dessa categoria os multimercados que adotam posições direcionais, mas em que o gestor busca capturar os movimentos de curto e médio prazos constantemente. Em janeiro, a oscilação média da categoria era de 1,15%, passando para 2,40% em outubro. Em termos de rentabilidade, esses portfólios ainda aparecem na lanterninha, com 10,16% no ano até outubro. No último trimestre, o rendimento médio é de 1,70%.