Título: Centrais querem redução da jornada
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2005, Política, p. A6

No momento em que surge mais uma central sindical, as atuais centrais se organizam para obter espaço na sociedade e conquistar vitórias políticas. Embaladas pelo resultado obtido no fim do ano, quando faturaram politicamente o aumento do salário mínimo e a correção da tabela do Imposto de Renda, a CUT e a Força Sindical esperam levantar novos temas este ano, como a redução da jornada de trabalho. Toda a movimentação está sendo realizada numa parceria que não era comum. Além da CUT e da Força, a CAT e a CGT estão atuando de forma coordenada. "Tivemos uma reunião na quinta-feira em que decidimos uma agenda comum", afirmou o João Carlos Gonçalves, o Juruna, da Força Sindical. "Desde os debates da reforma sindical, as centrais ficaram mais próximas e estamos observando que ganhamos quando atuamos de forma articulada." O primeiro ato será durante o Fórum Social Mundial, quando as centrais lançarão a campanha nacional para a redução da jornada. "O Congresso nos deve a redução da jornada", afirmou o presidente nacional da CUT, Luiz Marinho. Para ele, não há como fugir dos dois principais temas de debate nas questões trabalhistas: a reforma sindical e os debates remanescentes sobre o salário mínimo. No dia 1º de fevereiro, os presidentes das centrais vão se reunir com o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, para pedir uma maior empenho na reforma sindical. "Apoiamos a reforma, pois ela foi debatida e quase totalmente acordada com os sindicatos, os empregadores e o governo", disse Marinho. O sindicalista lembra que não há como discutir a reforma trabalhista, interesse maior dos empresários, sem antes alterar totalmente o regime sindical, cuja estrutura foi definida na era Vargas. Tanto a CUT quanto a Força defendem o texto acordado da reforma, mas admitem que poderão tentar mudar os pontos do projeto em que não houve consenso, com a criação da representação de trabalhadores no local do trabalho. A reforma acaba com a unicidade sindical de base, reconhece as centrais e substitui o imposto sindical e as atuais contribuições por uma nova forma de financiamento sindical, a contribuição negocial, que poderá gerar aumento de receita para os sindicatos. O ponto considerado crucial por Marinho, entretanto, é justamente o que mais trouxe dividendos à CUT no fim do ano: o salário mínimo. "O governo se comprometeu a criar neste ano uma nova sistemática de correção do mínimo que eu considero isso mais importante que a vitória que obtivemos com a correção do fim do ano, quando conseguimos um bom aumento real para o mínimo", disse. Ele espera que esse debate seja retomado logo no governo para que a solução seja apresentada de forma rápida, sem os atropelos do fim do ano. O salário mínimo de R$ 300 vai ser o grande trunfo do dia do trabalhador deste ano, em 1º de maio. Para dar suporte a todas essas disputas, as centrais esperam se afinar ainda mais com o poder neste ano. "Já estamos marcando reuniões com todos os pré-candidatos à presidência da Câmara e do Senado", afirmou Juruna. Ele acredita que, com a atuação coordenada, as centrais poderão ganhar em 2005 muito mais que o obtido em 2004.