Título: Bovespa divulga nova edição do ISE sob críticas a critérios
Autor: Fariello , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2007, EU & Investimento, p. D2

A Bovespa divulgou ontem a terceira edição do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que engloba ações de 32 empresas, de 13 setores, com valor total de R$ 927 bilhões em ações e quase 40% da capitalização da bolsa. As companhias do grupo são aquelas aprovadas pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-SP. Nesta edição, ingressaram sete novas: AES Tietê, Cesp, Eletrobrás, Light, Sabesp, Sadia e Weg. Saíram oito: ALL, Celesc, Gol, Itaúsa, Localiza, TAM, Ultrapar e Unibanco.

A edição do índice foi marcada pelo maior rigor nos critérios para seleção das empresas, sujeitas a apresentar comprovações das respostas e a auditoria para avaliação. Segundo Ricardo Pinto Nogueira, diretor de operações da Bovespa, o questionário foi enviado para 137 empresas, que representam 150 ações, mas respondido apenas por 62. Muitas empresas teriam enfrentado dificuldades burocráticas para responder às questões, por conta das maiores exigências.

Ganhou espaço em número de empresas no índice o setor elétrico, que passou de oito empresas para onze, representando 13,2% do ISE. O setor financeiro, que sempre teve peso forte, perdeu com as saídas de Unibanco e Itaúsa, e passou a representar 37,4% do ISE. Depois dos bancos, têm peso maior no indicador a Petrobras, com 25%. Deixaram o índice todas as empresas do ramo de transportes.

Bovespa e FGV-SP não divulgam, porém, as razões que teriam excluído cada empresa do índice. "O índice é relativo e mantém só as melhores, segundo os critérios, então mesmo empresas que são boas podem sair", diz Nogueira. "Mas esse é o estímulo para empresas se preocuparem sempre mais."

A falta de publicação das virtudes e fraquezas que levam as empresas a ingressar ou não no índice tem incomodado, porém, o mercado. Walter Mendes, superintendente de renda variável do Itaú, cujo fundo Excelência Social passou a adotar o ISE como referência, ficou surpreso com as companhias que deixaram o índice. "É importante, para o investidor, saber porque uma empresa deixou de fazer parte do índice." Mendes não entende porque, desde o começo da publicação do ISE, em 2005, a Vale do Rio Doce não está na seleção - seu fundo aplica na empresa. "Não dá para entender agora as saídas de Ultrapar, Unibanco e Itaúsa", diz Guilherme Rebouças, gestor do Excelência Social, que, com Vale, supera a alta de 29,9% do ISE no ano, até segunda-feira.

Muitas empresas tiveram dificuldade em responder aos questionários mais complexos, principalmente porque todas as questões deveriam ser replicadas às subsidiárias. Uma empresa que enviou as respostas, contratou serviços extraordinários para dar conta das burocracias exigidas.

Mendes, do Itaú, diz que seria mais interessante que o ISE crescesse com mais empresas e que sua representatividade aumentasse. Ele defende maior tolerância com relação a burocracias - mas não afrouxamento dos critérios, ratifica - para que mais empresas aptas possam fazer parte do ISE. Além do Excelência Social, mais de dez fundos do mercado adotam políticas de investimento ponderadas na sustentabilidade, com patrimônio total de R$ 1,7 bilhão. Discute-se na Associação Nacional de Bancos de Investimento (Anbid) a criação de uma categoria específica para listar essas carteiras.

Discussões sobre critérios de sustentabilidade ganham cada vez mais relevância no mercado brasileiro. Segundo Roberto Gonzales, consultor do ISE, discute-se até que ponto as empresas do mercado, principalmente as recém-chegadas, estão preparadas para lidar com os investidores e o ambiente. No próximo ano, será pauta do congresso da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais de São Paulo (Apimec-SP) a adoção de parâmetros, na análise fundamentalista feita pelas corretoras, a inclusão dos quesitos de sustentabilidade.

Em janeiro, a bolsa da Índia deverá lançar sua versão do ISE, inspirada na metodologia brasileira.