Título: Integração com estatal põe a Braskem no mapa mundial
Autor: Capela, Mauricio ; Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2007, Empresas, p. B6

A Petrobras aumentou o seu nível de apostas na Braskem. Em uma operação de troca de ativos por participação acionária, a estatal ampliou sua fatia no capital votante da terceira maior petroquímica das Américas de 8,1% para 30%. No capital total, o salto foi de 6,8% para 25%.

Um dos grandes trunfos dessa operação foi justamente a subida de posições da Braskem no ranking global da petroquímica. Companhia criada em 2002 por meio da integração da central de matérias-primas Copene e empresas de resinas, o grupo presidido por José Carlos Grubisich ganha fôlego adicional para brigar em pé de igualdade com as maiores do setor no mundo. "Seremos um dos 10 maiores grupos globais petroquímicos e hoje já temos o segundo maior Lajida do setor no mundo", diz Grubisich. Sinônimo de resultado operacional, o Lajida (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) alcançou US$ 1,7 bilhão após a formatação do negócio.

O discurso do presidente da gigante petroquímica nacional se apóia na nova fotografia do grupo. Com uma capacidade produtiva de 3,25 milhões de toneladas de resinas plásticas, a Braskem agora está atrás apenas das americanas ExxonMobil (4,8 milhões de toneladas) e Dow (5,04 milhões de toneladas) na região das Américas.

Porém Grubisich ainda tem boas cartas na manga para reduzir a distância entre ele e esses gigantes. Por exemplo, em março de 2008, a Braskem vai adicionar 350 mil toneladas de polipropileno da Petroquímica de Paulínia e tem mais 150 mil toneladas de PVC a ser integrada nos próximos anos. Isso, sem contar as duas fábricas de resinas em construção na Venezuela, entre outros projetos.

Esse volume de polipropileno, por exemplo, mostra muito bem os benefícios dessa operação. Isso porque, na operação anunciada na sexta-feira com Petrobras, ficou acertado que a Braskem assumirá os 100% de Paulínia, além dos 100% da central de matérias-primas Copesul de Triunfo (RS), 100% da Ipiranga Petroquímica e 33,6% da fabricante de borracha sintética Petroflex. Só que a Petroflex é carta fora do baralho, já que Grubisich afirmou que o desejo é negociar de fato esse ativo.

A operação com a estatal petrolífera também prevê a incorporação integral da Petroquímica Triunfo, que produz 160 mil toneladas de polietileno. Mas isso vai depender do resultado de um processo judicial a respeito do controle dessa companhia, o qual envolve Petrobras e outros acionistas. Em caso de derrota da estatal, ficou acertado um aporte de recursos por parte da Petrobras. O valor é mantido em sigilo.

O curioso nesta nova estrutura societária é que não houve alteração significativa no acordo de acionistas. A Petrobras continua sem direito a veto, quando o assunto é investimentos. Mas existirá um alinhamento de consenso. Em outras palavras, esse alinhamento poderá tratar, por exemplo, da criação de uma nova classe de ações, de uma emissão de debêntures, do fechamento de capital ou de uma aquisição que leve a diluição de participação societária. "É algo que preserva o objeto que nos associamos", afirma José Lima de Andrade Neto, presidente da Petroquisa, o braço petroquímico da Petrobras.

Grubisich explicou ainda que esse alinhamento de consenso valerá para quem tem participação no capital votante maior que 18%. E este é o caso da Petrobras. Portanto, seguindo essa regra dos 18%, a estatal terá três conselheiros entre os 11 que compõem o conselho de administração da Braskem. "A operação também não mudou o direito de 'tag along' de 100%", completa Grubisich. O 'tag along' é um mecanismo usado em processo de venda de controle de companhias, que estende direito dos controladores aos minoritários.

Outro reflexo da operação entre Petrobras e Braskem é visível no campo das sinergias. Segundo estimativas das duas empresas, serão alcançadas em torno de US$ 1,1 bilhão. Desse montante, US$ 137 milhões deverão sair da Copesul, US$ 299 milhões da Ipiranga e US$ 711 milhões da própria Braskem.