Título: Dois grupos e a Petrobras dominam a petroquímica
Autor: Capela, Mauricio ; Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2007, Empresas, p. B6

Em pouco mais de seis meses, desde maio, um dos mais longos nós societários do país chega ao fim. Quinze anos depois da privatização, que acabou com o modelo tripartite que originou a petroquímica no Brasil, o setor entra em uma nova fase. A indústria, que viveu fragmentada nesse tempo, agora consolidou-se em dois grupos liderados pelo capital privado, com participação relevante, porém minoritária, da Petrobras. Esse novo modelo vai dar certo?

Fruto de uma concepção empresarial que separava em diversas companhias a produção de resinas da fabricação de matéria-prima, o modelo que acaba resultou em vários grupos com participações cruzadas entre si e criou um sistema que perdeu competitividade na economia globalizada. Para muitos, esse capítulo final somente foi escrito porque a estatal Petrobras decidiu ter uma posição relevante no setor.

De simples espectadora, depois de ter ficado apenas como fornecedora de matérias-primas a partir de 1992, a estatal modificou a sua forma de atuação na petroquímica nacional. Se, antes, preferia assistir de camarote o primeiro passo do fim do nó, que se deu com o leilão da central de matérias-primas Copene, de Camaçari (BA), em julho de 2001, neste ano a Petrobras agiu diferente.

De maio a agosto, dois grupos que ainda alimentavam sonhos de fazer parte do setor foram varridos do mapa - o Ipiranga, com ativos no Sul, e o Suzano, no Sudeste. No primeiro caso, Petrobras, Braskem e Ultra se uniram para resolver o complicado grupo gaúcho, sufocado por um emaranhado de herdeiros sem visão de futuro. Noutro lance inesperado, em agosto a estatal comprou, por R$ 4,1 bilhões (incluindo minoritários e dívidas), os ativos da Suzano Petroquímica.

Segundo José Lima de Andrade Neto, presidente da Petroquisa (braço da Petrobras no setor), agora "o setor petroquímico não é local. É global. E nós temos que ter capacidade e porte para esse jogo. Além disso, o setor é cliente da Petrobras e nós queremos ter clientes fortes".

O mundo nunca seguiu o modelo que imperava no Brasil - concepção empresarial que separava matéria-prima de resina. A americana Dow, por exemplo, sempre preferiu agregar valor ao seu eteno, fabricando resinas plásticas que depois seriam transformadas em sacolas de supermercados, em baldes, em peças de carros, entre outros. É sabido que a resina vale bem mais que eteno.

Só que no Brasil não era assim até 2001. Ao aceitar pagar R$ 785 milhões pela Copene, ativo em liquidação pelo Banco Central, depois que foi à falência o Banco Econômico, o consórcio Odebrecht-Mariani deu o primeiro passo para a integrar fábricas de resinas a uma central de matérias-primas. Surgia, assim, o embrião da Braskem, hoje a terceira maior petroquímica das Américas.

Depois disso, foi uma sucessão de movimentos, que teve um ponto final na última sexta-feira. Foram por água abaixo as pretensões de Ultra, Suzano e Ipiranga em serem grandes na petroquímica. Ficaram, de mãos dadas com a Petrobras, os grupos Odebrecht e Unipar. O Ultra não soube aproveitar a oportunidade que teve em 2001 e o Suzano saiu porque não concebia dividir poder.

Uma questão diz respeito ao fato de o Brasil ter uma empresa monopolista no fornecimento de matéria-prima ao setor: a Petrobras. Ao contrário de outros setores, como celulose ou mineração, a petroquímica não tem, pelo menos hoje, vantagem comparativa na matéria-prima, caso da nafta ou do gás. A estatal dá as cartas neste jogo. E as empresas dependem destes insumos, que representam 70% dos custos de produção. Mas, agora, a Petrobras também é sócia dessas empresas. (Colaborou André Vieira, De São Paulo)