Título: Cresce procura pelo GLP para suprir a falta de gás
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2007, Empresas, p. B7

Leo Pinheiro/Valor "Os grupos europeus usam o GLP como sistema de segurança", diz Cotta da SHV Um punhado de indústrias instaladas no país anda de olho no gás natural. Depois que as térmicas movidas ao insumo foram ligadas no fim de outubro, o que gerou algum desabastecimento no Estado do Rio de Janeiro e resultou na substituição do gás pelo óleo combustível em algumas fábricas paulistas temporariamente, os empresários, principalmente, da tecelagem, da cerâmica, do vidro e do papel passaram a mão no telefone e procuraram as grandes distribuidoras do Gás Liqüefeito de Petróleo (GLP), o popular gás de cozinha. Na conversa, com jeito de negócio, ficou bem claro que as companhias desejam mesmo é que seu maquinário funcione ou com gás natural ou com GLP, mas que não pare de jeito algum.

Ao Valor, os produtores do GLP confirmaram a procura. E, apesar do discurso cordial, já que todos asseguram que o gás de cozinha e o gás natural são fontes de energia complementares, o fato é que o telefone das distribuidoras de GLP não param de tocar.

"Nos últimos dois meses, os nossos clientes industriais pularam de 15 para 45. E o movimento é nacional", afirma Lauro Cotta, diretor-presidente da holandesa SHV no Brasil. Dona das marcas Minasgás e Supergasbras, a companhia tem aumentado sua presença na indústria, porque as empresas estão interessadas em ter o GLP como um sistema de segurança. Em outras palavras, caso o gás natural não possa ser entregue pelos fornecedores por qualquer motivo, a indústria quer ter a opção de apertar um botão e ter o GLP irrigando imediatamente seus equipamentos.

"As indústrias da Europa já trabalham com o GLP como sistema de segurança. É normal", acrescenta o executivo da SHV.

Mas a procura não congestionou apenas os telefones do grupo holandês no Brasil. Também aumentou o volume de chamadas para a Liquigás, que é controlada pela estatal Petrobras, a grande fornecedora do gás natural no país. Com três clientes industriais, a controlada não esconde que a procura empresarial é grande, mas adianta que até o momento não fechou contrato algum.

"Tivemos cerca de 10 companhias nos procurando nos últimos dias", conta Ubiratan Clair, diretor da área de granel da Liquigás. O executivo explica ainda que a instalação do GLP como sistema de segurança em uma companhia de consumo mensal próximo das 500 toneladas pode custar entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão. "Nessa conta, está incluído o tanque de armazenamento, o sistema de vaporização, o insumo, entre outros", explica Clair.

Com um faturamento líquido de R$ 2,3 bilhões em 2006 e vendas próximas de 1,4 milhão de toneladas por ano, a Liquigás projeta um crescimento perto dos 2% neste ano. Mas Clair lembra que a sua área, a granel, que é quem negocia realmente com as indústrias, poderá ter um incremento maior em 2007, perto dos 3%. E o crescimento é sem dúvida fruto do entrelace entre o GLP e o gás natural. A divisão granel representa 20% da receita da controlada da Petrobras.

"Acredito que haverá um aumento da materialização dessas consultas em 2008, que será um ano balizador dessa complementaridade entre o GLP e o gás natural", conta Clair. O executivo lembra ainda que essa complementaridade só é possível porque ambos são muito parecidos. "Eles têm o mesmo desempenho energético e também tem reduzidas emissões ambientais", acrescenta Clair.

Mas o diretor da divisão granel da Liquigás tem toda razão quando aponta o dedo em direção a 2008. Isso, porque, no ano que vem, o que se desenha é a entrada de pelo menos 7 milhões de metros cúbicos por dia de Gás Natural Liquefeito (GNL) ainda no primeiro semestre. E esse volume já tem destino certo. Deverá ir direto para as usinas termelétricas no país, o que reduziria o temor de que o gás natural fosse retirado a qualquer momento da indústria ou dos postos de combustível para ser usado na geração dos megawatts. Hoje, a oferta de gás natural no Brasil é 42 milhões de metros cúbicos por dia, sendo 30 milhões extraídos da Bolívia e 12 milhões do país.

O presidente da SHV no Brasil conhece esse cenário. Tanto que prefere não arriscar projeções sobre o vigor do GLP como sistema de segurança. Mas afirma que espera um incremento das vendas em torno de 2% em 2008. A SHV comercializa no país 1,5 milhão de toneladas e tem um faturamento de US$ 1,2 bilhão por ano.

Outra distribuidora de gás de cozinha que também conhece muito bem a atual fotografia é a Copagaz. Ueze Zahran, o seu presidente, explicou recentemente ao Valor que desenha um plano de negócios para aproveitar o crescente interesse industrial.

Com vendas mensais hoje de 42 mil toneladas, Zahran projeta chegar perto da marca mensal de 50 mil toneladas em alguns meses. E para elevar seu nível de venda em 19%, o empresário quer ampliar o número de clientes industriais. Hoje, das 42 mil toneladas mensais comercializadas, 32 mil são vendidas nos tradicionais botijões de 13 quilos e 10 mil seguem direto para as indústrias. Nos próximos meses, a intenção é outra. É negociar 36 mil toneladas em botijões e 14 mil junto aos grandes consumidores.

Para alcançar esse objetivo, Zahran explica que precisará investir R$ 16 milhões. Na segunda metade deste ano, inclusive, a Copagaz aplicou R$ 6 milhões na compra de seis caminhões-tanque que garantem o transporte das 4 mil toneladas atuais do produto até as fábricas. Com essa compra, o grupo alcançou a marca de 73 caminhões. Agora, se alcançar as 50 mil toneladas mensais, a Copagaz terá uma receita mensal de R$ 110 milhões.