Título: Sadia acelera novo projeto nos Emirados
Autor: Rocha, Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2007, Agronegócios, p. B13

Davilyn Dourado/Valor "Há uma demanda não atendida na Rússia", vislumbra Gilberto Tomazoni Após instalar uma fábrica na Rússia em parceria com a Miratorg, a Sadia terá uma indústria em Ras Al Khaimah, um dos sete emirados situados no Oriente Médio. A empresa, que já tem escritório comercial em Dubai, escolheu Ras Al Khaimah para seu próximo empreendimento, apurou o Valor, para atender aos mercados dos países árabes, de onde provêm 25% de seu faturamento com as exportações.

Nesse emirado, a Sadia levantará uma planta de R$ 100 milhões para produzir industrializados à base de carnes bovina e de frango. Uma das razões da escolha foi que Ras Al Khaimah não está inflacionado como Dubai, hoje um canteiro de obras no meio do deserto.

O projeto nos Emirados Árabes Unidos, que deve começar em 2008, é o novo passo na internacionalização da empresa, que no sábado inaugurou sua fábrica em Kaliningrado, encrave russo no mar Báltico, entre Polônia e Lituânia. O aporte de US$ 90 milhões foi feito em uma joint venture com a Miratorg, que já distribuiu os produtos da Sadia na Rússia. A Sadia tem 60% de participação no negócio.

A previsão inicial era investir US$ 70 milhões para construir a indústria de processados de carnes (empanados e embutidos), mas o chamado processo de "russificação", uma herança do regime soviético, encareceu o negócio. Segundo Walter Fontana, presidente do conselho de administração da Sadia, a "russificação" visa adequar projetos às normas russas. Isso significou mais tempo e dinheiro. Do aporte total, 70% foi financiado pelo International Finance Corporate (IFC), braço do Banco Mundial. Segundo Fontana, o financiamento é em rublos e o prazo para pagar é de dez anos.

Ele explicou que a fábrica iniciará as operações em janeiro, mas questões de agenda dos sócios anteciparam a inauguração, que teve desde banda tocando marchas soviéticas até hasteamento de bandeiras e a presença de um comediante famoso na Rússia. E teve, ainda, discurso superlativo do governador de Kaliningrado, George Boos, que sob frio intenso realçou a rapidez com que os parceiros solucionaram problemas encontrados no caminho. "A empresa surgiu como surgem os cogumelos depois das primeiras chuvas".

A indústria no território russo, que vai operar com o nome de Concórdia, terá capacidade para produzir 53 mil toneladas de processados por ano, até 2011. Ela foi planejada para atingir 80 mil toneladas a partir de investimentos adicionais de US$ 20 milhões.

Segundo Gilberto Tomazoni, presidente-executivo da Sadia, 25% da produção em Kaliningrado será destinada à rede de fast food McDonald's na Rússia, que tem 188 lojas. A Sadia fornecerá hambúrgueres e produtos de frango. "Há uma demanda não atendida na Rússia, onde temos 53% de reconhecimento de marca". A possibilidade de fornecer ao McDonald's russo foi um grande estímulo para o aporte em Kaliningrado. Tomazoni explicou que há três anos, a Sadia se tornou um dos cinco fornecedores globais da rede. Essa condição permitiu à empresa ser parceira do MC também na Rússia.

A importância da Rússia para as exportações da empresa também pesou. Cerca de 21% das vendas externas da Sadia, que devem atingir US$ 2,2 bilhões em 2007, são destinadas à Rússia, informou Fontana.

Kaliningrado foi escolhido por ser um porto importante no Báltico, por onde a Sadia coloca 10 mil toneladas por mês de produtos na Rússia. Além disso, a região isenta de impostos as matérias-primas importadas para a produção de bens que serão vendidos na Rússia. O plano da Sadia é usar matéria-prima do Brasil e de outros países. A expectativa, conservadora, é que a fábrica em Kaliningrado, uma das maiores em alimentos processados na Rússia, fature US$ 200 milhões/ano. A indústria também fará produtos tradicionais russos, como defumados e presuntos, com a marca Myasnaya Guildia, algo equivalente a "Clube da Carne".

Após a inauguração, Alexander Linnik, presidente do conselho de administração da Miratorg Holding disse a jornalistas russos que a Concórdia será a maior entre as empresas de alimentos processados na Rússia. Informou que a empresa pagará salários médios mensais de 18 mil a 20 mil rublos (de US$ 750 a US$ 830). Valores que russos como Anna e Vadim, que trabalharão na linha de produção de processados, consideram bons. Eles estiveram no Brasil para treinamento em fábricas da Sadia e estão entre os 700 funcionários que a Concórdia empregará em Kaliningrado - 5% deles brasileiros.