Título: Petróleo e dólar sustentam preço de grãos
Autor: Lopes, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2007, Agrnegócios, p. B14

Em um ano "normal", daqueles que colaboraram para a consolidação das médias históricas dos preços das commodities agrícolas no mercado internacional, novembro teria sido, provavelmente, um mês de pressão sobre as cotações de soja e milho.

Como acontece também em outubro, novembro não costuma reservar grandes novidades sobre os chamados "fundamentos" (oferta e demanda) do mercado. No Hemisfério Norte, a safra já está definida; no Hemisfério Sul, as projeções de colheita, a partir de janeiro, são conhecidas, e é cedo para mensurar eventuais efeitos climáticos sobre a produção.

Sendo assim, sobra para o mercado, em outubro e novembro, o escoamento da colheita do norte, sobretudo a dos Estados Unidos, o maior país agrícola do mundo. E quando os americanos começam a vender sua gigantesca safra, a tendência é de retração dos preços.

Só que 2007 não pode ser considerado "normal". É o ano da globalização dos biocombustíveis, especialmente o etanol, e da "disputa" entre alimentos e energia por grãos. É o ano de novos picos para o petróleo e de vales profundos para o dólar. De fortalecimento de um novo perfil de investidores com pouca tradição em commodities agrícolas nesses mercados. Um ano, segundo analistas, de quebra de paradigmas.

"Os patamares do mercado agrícola mudaram. 'Média histórica', hoje, é até 2006. Este ano é um marco divisor", afirma Renato Sayeg, da Tetras Corretora. Em em um ano come esse, portanto, nada mais normal do que um novembro diferente. E como o petróleo subiu mais um degrau e o dólar derreteu um pouco mais, soja e milho tiveram as maiores altas entre as principais commodities agrícolas transacionadas pelo Brasil no exterior.

Segundo cálculos do Valor Data baseados nas cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez), o salto da soja foi de 8,12% e o do milho atingiu 6,43%. Os dois grãos são negociados na bolsa de Chicago, que no mês passado também viu as cotações do trigo, que estavam em ascensão, recuarem 6,55%.

O milho costuma sofrer maior influência da relação entre petróleo e biocombustíveis por ser a matéria-prima do etanol produzido nos EUA, e por muitos meses subiu forte e ajudou a puxar os "vizinhos" soja e milho. Em novembro esse reflexo existiu, mas a soja liderou o movimento de alta em razão de seus magros estoques globais, que catapultaram as cotações ao maior patamar em 34 anos. O trigo tornou-se mais vulnerável em parte por causa de um movimento de recuperação da oferta mundial.

"A alta da soja foi a principal influência para o comportamento dos preços do milho em Chicago em novembro", confirma Eduardo Reinaldo Sarmento, da Safras & Mercado. Ele observa que o clima na América do Sul - que atualmente planta a safra 2007/08 - já atrai a atenção dos traders dos mercado de soja e milho, mas que, por enquanto, a situação está tranqüila. Em dezembro, segundo ele, o cenário não deve mudar muito.

Na bolsa de Nova York, não houve grandes mudanças nos rumos dos mercados de açúcar e algodão. Apesar de a produção indiana estar no mercado, a cotação média do açúcar foi, em novembro, 1,12% superior a de outubro, conforme o Valor Data. Já o algodão, que tem na boa demanda asiática um de seus pilares, registrou valorização de 0,10% em igual comparação.

Também negociado em Nova York, o cacau foi guiado por movimentos especulativos atrelados ao escoamento da produção africana e subiu 3,91%. Já o suco de laranja retomou a curva descendente após os ganhos de outubro e recuou 4,18%. E o café, finalmente, "desafiou" os fundamentos e caiu 5,11%.

"O mercado de café em Nova York segue com grande domínio da visão de curto prazo de fundos de investimentos. Notícias sobre a oferta brasileira ajudam a guiar os movimentos desses investidores, mas há uma discussão estéril sobre o tamanho da safra enquanto os estoques do país definham", afirma Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes.